Al Martin Há 900 anos, na Inglaterra falava-se francês. Era, pelo menos, a língua usada pelos letrados e pela própria corte. Esse entusiasmo dos anglos pela língua de prestígio durou bem uns 300 anos, tempo suficiente para que o falar local se impregnasse de palavras e expressões vindas do outro lado da Mancha. A imensa maioria das palavras abstratas inglesas atuais são de origem latina. Aportaram à Grã-Bretanha vindas diretamente do latim ou, o mais das vezes, através do francês. Até expressões corriqueiras do dia a dia foram tomadas emprestadas dos gauleses ou construídas com vocábulos daquela que era percebida como língua de cultura. Hoje a tendência se inverteu e, com o advento da informática, tende a acelerar. As palavras para nomear as novas necessidades são geradas pelos ingleses e adotadas pelos franceses. Há até casos curiosíssimos de palavras que foram e voltaram. Budget, por exemplo, nasceu bougette, francesa legítima. Era o nome daquela bolsinha de couro que, na Idade Média, se carregava à cintura, como se vê em filmes históricos. Cruzou o canal quase um milênio atrás. O desaparecimento dos saquinhos de couro liberou a palavra para outros usos. E ela acabou adquirindo o significado de orçamento. Já com o novo sentido, cruzou de volta a Mancha e retornou à terra de origem, onde passou a ser usada correntemente. Poucos franceses conheçam essa história de ida e volta. Mas falávamos do pedigree. Estranha palavra, não? Muito antigamente, a cada vez que o os ingleses escreviam sobre descendência ou genealogia, a filiação era indicada por três traços verticais divergentes. Essas marcas lembram as pegadas de uma garça. Da parecença à oficialização da expressão, bastou um passo. O povo não estava muito interessado em filiação nem em genealogia, preocupações ausentes de seu quotidiano. De qualquer maneira, muito poucos sabiam escrever. Coube então aos letrados dar nome à coisa. Podiam ter chamado “foot of crane” — o equivalente inglês para pé de garça. Mas preferiram usar palavras francesas, que, afinal, soavam bem mais chiques. Criou-se então o “pied de grue”, tradução do mesmo pé aviário. O tempo encarregou-se de erodir a expressão. Ao longo dos séculos, passou por formas tais como pedigrew e pedegru, até desembocar no atual pedigree. Alguns estudiosos acreditam que haja havido contaminação da inglesa degree. Seja como for, o vocábulo especializou-se em linhagem animal. Não pega bem dizer que o pedigree da rainha da Inglaterra é próximo do da família real espanhola. Para gente, é melhor usar ascendência, linhagem, estirpe, família. Os franceses acharam graça na expressão, mas lá não reconheceram a garça oculta. Usam-na com o mesmo sentido, mas pronunciam pedigrê. A expressão “pied de grue” existe em francês, mas tem significado completamente diferente. Fica para uma outra vez.
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