Histórias de diminutivos

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A mania vem de longe. Mas se agrava dia a dia. Virou vício. Profissionais parecem treinados a não usar o grau normal dos nomes. É um tal de sapatinho pra lá, comidinha pra cá, cortininha pracolá. O salão de beleza foi atrás. A pedicure pede o “pezinho” da cliente que calça 40. O cabeleireiro corta o “cabelinho” que bate na cintura. A esteticista promete boa “limpezinha” de pele da adolescente com a cara coberta de cravos. Deu-se mal. Desaforada, a garota deixou claro:

Não quero limpezinha. Quero limpeza. Quero limpezão.

Deu meia-volta, bateu asas e voou. Com ela, as clientes que não querem ser clientezinhas.

Obrigadinho

Mário Quintana autografava um de seus livros com a tranquilidade costumeira, dizendo uma coisa ou outra para as crianças da fila, quando é apresentado a um ministro de Estado de passagem por Porto Alegre que estava ali para cumprimentá-lo. Curvando o corpo, o político confessa, tentando ser gentil:

Gosto muito de seus versinhos.

Quintana, abrindo aquela sua expressão típica de incredulidade, revida no mesmo instante:

Muito obrigado pela sua opiniãozinha.

A vez

Diminutivo nunca tem vez? Tem. Quando indica tamanho pequeno (o pezinho do bebê) ou carinho. O filho chama o pai de 1,90m de paizinho. Também exprime ironia e desqualificação (advogadinho de porta de cadeia). Exemplo em que o diminutivo exprime afeto? Eis um. É do escritor Álvaro Moreira:

Quando eu morrer, com certeza vou pro céu. O céu é uma cidade de férias, férias boas que não acabam mais. Assim que eu chegar, pergunto onde mora lá minha gente que foi na frente. Dou beijos. Dou abraços.

E depois? Depois vou à casa de São Francisco de Assis pra ficar amigo dele, amigo de verdade, tão amigo, tão íntimo que ele há de me chamar Alvinho e eu hei de lhe chamar Chiquinho.

Dad Squarisi

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