Servir no Exército
João Marcelo completou 18 anos. Sabe que precisa prestar o serviço militar. Não se decidiu se no Exército, Marinha ou Aeronáutica. Louco por avião, está tentado pela Aeronáutica. Mas, antes, tem de tirar uma dúvida. Ele vai servir a Aeronáutica? Na Aeronáutica? Como é?
Correu pro dicionário. Lá está. No sentido de prestar serviço militar, é servir na Aeronáutica. O mesmo vale para as outras armas. Servir no Exército. Servir na Marinha. Os moços escolhem. Sou de Goiás
Ana Paula é carioca. Fez vestibular pra UnB, passou e se mudou pra cá. Aqui ouve muita gente dizer: Sou do Goiás. Moro no Goiás. Nasci no Goiás. Estranhou. No Rio se diz Sou de Goiás. Moro em Goiás. Nasci em Goiás. Confusa, ela consultou a coluna. Quem está certo?
Ana Paula, dizer o Goiás é moda recente. Dicionários e gramáticas não a engoliram. O estado vizinho se chama Goiás — sem artigo, leve e solto. Continue a dizer: Vou a Goiás. Nasceu em Goiás. Gosto de Goiás.
Os goianos — e sobretudo nossos ouvidos — agradecem. E você, quando tiver um tempinho, vá a Goiás. Você vai adorar. Escrever
Brasília é a cidade dos concursos. Todo mundo quer um emprego no serviço público. Por isso a disputa é grande. A redação define o sortudo. Como escrever melhor e mais rápido?
Escrever é como nadar ou datilografar. Exige treino. Para ser campeão de natação, o atleta treina horas por dia. Para ser boa datilógrafa, a pessoa passa um tempão diante do teclado.
Escrever joga no mesmo time. Aprende-se a escrever escrevendo. Escreva todos os dias. Pode ser o comentário de uma notícia, o resumo do capítulo da novela, o sonho que você teve, a discussão com o seu chefe.
Vale tudo. Ninguém precisa corrigir. Escreva e jogue o texto no lixo. Em um mês, ninguém segura você. No concurso, uma vaga é sua. Vá em frente. Andar a pé
Você gosta de caminhar? Os médicos insistem que pôr os pés na estrada faz um bem danado. Ajuda a circulação, evita enfartos e aumenta o bem-estar geral. Andar está na moda. Mas abra o olho.
A gente anda de carro, de avião, de ônibus, de metrô. Mas anda a cavalo e anda a pé. Sabe por quê? Carro, avião, ônibus, metrô são máquinas. Cavalo e gente são animais. Por isso merecem tratamento diferente. Aniversário de cinco meses
O nascimento do bebê é sempre uma festa. Os pais não têm paciência de esperar um ano para comemorar o aniversário. Comemoram o primeiro mês, o segundo, o terceiro. E por aí vai. No convite, escrevem “aniversário de um mês, aniversário de dois meses, aniversário de três meses”. Pode?
Aniversário vem de ano. A gente faz aniversário a cada 12 meses. Quando completa 12 meses, a criança faz o primeiro aniversário. Quando completa 24 meses, a criança faz o segundo aniversário. E por aí vai.
Comemorar o aniversário a cada mês? É pôr o carro na frente dos bois. Melhor dar ao tempo o que é do tempo. Aniversário só a cada ano. Se não, o pobre bebê fica velho logo, logo. Sentar à mesa
Comer é bom, não é? Comer sentado é melhor ainda. Mas há uma questão. A gente se senta à mesa ou na mesa? A pergunta tem tudo a ver. Gente educada se senta à mesa. Sentar-se à mesa quer dizer juntinho da mesa. Os pratos é que ficam na mesa. Isto é, em cima da mesa.
Entendeu a manha? Você se senta à mesa pra comer as delícias que estão na mesa. Bom apetite. Correr atrás do lucro
Paula namorou Luís cinco anos. Perto da hora do casamento, brigaram. Puxa! Cinco anos perdidos! A mãe, pra consolar a filha, lhe disse:
— Namore muito. Corra atrás do prejuízo.
Paula ouviu e pensou:
— Correr atrás do prejuízo? Cruz-credo! Chega! Vou correr atrás do lucro.
Entendeu a manha? Quando quer muito alguém ou alguma coisa, a gente corre atrás. Paula corre atrás de novas paqueras. Ronaldinho corre atrás do gol.
Quando não quer alguém ou alguma coisa, a gente corre dela. Corre do perigo, corre das drogas, corre do ladrão.
É isso. Corra do prejuízo. Mas não bobeie. Corra atrás do lucro. Que dia é hoje?
Que dia é hoje? Hoje é cinco de março ou são 24 de maio? Hoje é 24 de maio? A gente ouve a pergunta todos os dias. Como responder? Do mesmo jeitinho de horas: É uma hora. É primeiro de janeiro. São duas horas. São dois de março. São 23 horas. São 23 de maio.
Pode-se dizer “Hoje é 24”? Pode-se. Aí, fica subentendida a palavra dia. Hoje é (dia) 24. Mas é melhor jogar no time das horas. Todos os gramáticos torcem por ele.
Gerundismo
Você é do time que diz “vou estar fazendo, vou estar mandando, vou estar saindo? Se for, abra o olho. Você caiu no gerundismo. Usa o gerúndio com valor de futuro. É a receita do cruz-credo.
Gerúndio é a forma do verbo que termina em -ndo — amando, vendendo, partindo. Ele indica a ação que se passa no momento. Não serve para formar o futuro: Estou falando. Estamos estudando. Estávamos lendo.
Em bom português, a gente tem o futuro simples (farei, mandarei, sairei). Ou o futuro composto (vou fazer, vou mandar, vou sair). Com o gerúndio, não há futuro. Fuja do gerundismo. Xô! Canja de galinha
Você gosta de uma sopinha? Que tal uma canja? Bom, né? O caldo quentinho cai bem, dá conforto ao estômago, aquece a alma.
Mas, ao falar em canja, lembre-se. Toda canja é de galinha. Se não for, pode ser tudo. Menos canja.
Se algum teimoso insistir na canja de galinha, coitado dele. Pode ter indigestão. Não corra riscos. Tome canja. O estômago agradece. A língua também. Bom apetite.
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