“Coisa de demagogo”, desdenha Jair Bolsonaro ao ouvir a promessa de volta do país feliz alardeada pelo adversário. “Só demagogia”, afirma Fernando Haddad depois da jura do capitão: “No meu governo, pátria, família e religião falarão alto”. Quem está certo? No fundo, como diz o outro, ambos têm razão. Fica a deixa: a história da palavra que nasceu do bem e, com o tempo, mudou de time.
Demagogo vem do grego. É composto de duas palavras. Uma: demos. Quer dizer povo. A outra: agogôs. Significa conduzir. Na Grécia antiga, demagogo era o chefe de facções populares, ou seja, o líder político. Quando nasceu, o vocábulo tinha boa reputação. Não ofendia ninguém. Dizia-se demagogo como hoje se diz prefeito, governador ou presidente. O termo não tinha conotação depreciativa.
Com o tempo, a novela mudou de enredo. Demagogo virou palavrão. É o político longo nas promessas e curto no cumprimento. Inescrupuloso, engana no atacado. Aproveita as aspirações populares para o próprio bem. Aristóteles o denominava adulador do povo.
Nós lhe damos alguns apelidos. Busca-pé é um. Candidato relâmpago, outro. Explica-se. Ele aparece, brilha, faz barulho e some. Vale também copa do mundo. Ou bom filho. O homem volta às bases regularmente. De quatro em quatro anos, bate à porta dos eleitores. Aperta mãos, dá abraços, pega crianças no colo, come sanduíche de mortadela, toma cafezinhos. Depois, bate asas.
O estilo varia aqui e ali. Mas, na essência, não muda. O louquinho pelo poder faz e acontece. Tudo é fácil. Desemprego? Violência? Drogas? Dinheiro curto? As soluções vêm como toque de mágica. Cadê os meios? O gato comeu. Nesta eleição, o bichano encheu o papo. E nós? Depois de 28 de outubro, vamos pagar a conta. Prepare o bolso. E o coração.
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