Manhattan Connection tem várias características. Duas delas: inteligência e charme. Comandados por Lucas Mendes, Caio Blinder, Ricardo Amorim e Diogo Mainardi comentam acontecimentos da semana. Política, economia, cultura, história, culinária, tudo tem vez desde que seja notícia. Transmitido de Nova York, o programa sofre o problema da distância. Volta e meia tropeça na língua. No domingo, aconteceu. Ricardo Amorim disse: — Morreram o dobro de crianças. Lucas Mendes corrigiu: — Morreu o dobro de crianças. Ricardo trocou seis por meia dúzia: — O dobro de crianças morreu. Ops! Confusos, telespectadores consultaram a coluna. Eles querem saber qual a concordância nota 10. Trata-se do partitivo. Expressões que indicam quantidade (grande número de, pequena quantidade de, metade de, dobro de, uma porção de) seguidos de complemento plural deixam o verbo à vontade. Ele pode concordar com o núcleo do sujeito (número, quantidade, porção, dobro, metade) ou com o complemento: O dobro de crianças morreu. (Morreu concorda com dobro, núcleo do sujeito.) O dobro de crianças morreram. (Morreram concorda com crianças, complemento.) Nota 10 para Ricardo Amorim. No sufoco, ele apostou no sem saída — acertar ou acertar. A porca torce o rabo quando o verbo antecede o sujeito. A concordância com o complemento deu otite no Lucas. O verbo, no caso, não esconde a preferência. Ele só tem olhos para o elemento mais próximo — o dobro: Morreu o dobro de crianças.
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