DAD SQUARISI //
dadsquarisi.df@dabr.com.br Você foi a Pirenópolis neste fim de semana? Então participou da Flipiri. E talvez engrosse o coro dos que pedem mudança na Feira do Livro de Brasília. O modelo de exposição em ambiente fechado, com montanhas de obras — a maior parte conhecida — talvez devesse se chamar feira do livreiro. O programa atrai o amante do livro. Ele vasculha escritos, lê as orelhas, dá uma olhada no índice, lê uma página aqui e ali ou deixa-os na estante. Comprá-los? Sem vantagem no preço, prefere adiar a aquisição. As grandes livrarias oferecem bônus. As feiras falham, assim, em uma das principais funções — atrair novos leitores. A Flip (Festa do Livro de Paraty) deu uma guinada de 180 graus no evento. Ali a vedete é a cidade. Toda ela se prepara para o acontecimento. Restaurantes, bares, pousadas, museus, galerias, butiques se integram à única livraria que expõe livros pra lá de selecionados. Estrelas nacionais e internacionais passeiam pelas ruas e conversam com a população. Adultos e crianças participam de palestras, entrevistas, autógrafos — tudo em espaços abertos. “Só Deus e os alemães sabem o que vai dentro de uma salsicha. Se nós soubéssemos, jamais levaríamos uma à boca”, dizem os talvez invejosos da delícia que só os germânicos fazem tão bem. Vale a analogia. Se soubéssemos a diferença entre festa e feira do livro, não pisaríamos mais em bienais & similares. A razão: as flips — além da Flip, a Fliporto (de Porto de Galinhas) e a Flipiri (de Pirenópolis) resgataram o sentido original de feira. Feira, em latim, quer dizer dia de festa. Em tempos idos e vividos, os moradores das cidades acordavam cedinho, vestiam as roupas mais bonitas e saíam pra rua. Nas praças, encontravam os amigos, conheciam gente nova, batiam papo, trocavam experiências, ouviam música. Era só descanso. Vendo tantas pessoas reunidas, eureca! Os comerciantes tiveram uma ideia. Resolveram expor os produtos. Quem gostasse comprava. Resultado: o dia de festa virou dia de trabalho. Por isso, em português, os dias da semana têm feira no nome. Só escaparam o sábado e o domingo. (No cinquentenário, Brasília merece todas as festas. Uma delas: a festa do livro.)