Causa indignação o fato de o Ministério da Educação (MEC) distribuir livros de português que abonam erros inaceitáveis de concordância. Quase 500 mil estudantes da rede pública aprendem que “nós pega o peixe” ou “os meninos pega o peixe” são formas de expressão corretas. A obra Por uma vida melhor, de Heloísa Ramos, defende a substituição dos conceitos certo e errado pelos de adequado e inadequado.
Assim, corrigir grafias, flexões, regências, colocação de termos seria preconceito linguístico. Para fugir do rótulo, vale o que se diz — seja lá o que isso signifique na imensa variedade linguística registrada nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território nacional. “Não somos o Ministério da Verdade”, disse o representante do ministro da Educação, Fernando Haddad.
Ele tem razão. O MEC não é o Ministério da Verdade. É o Ministério da Educação. Tem a responsabilidade de traçar os rumos a serem tomados pelas instituições de ensino de todos os níveis. Ao rebaixar a norma culta, abdica do dever de proporcionar a crianças e jovens o acesso ao conhecimento. Considera certo mantê-los à margem do saber, que abre as portas das boas universidades, dos bons empregos e da ascensão social. Em bom português: renuncia à própria função.
Se existe, o preconceito é do próprio ministério. Ninguém ignora a importância do falar das ruas. Mas ninguém precisa frequentar salas de aula para aquisição de registros da oralidade. Precisa, sim, de anos de convívio com bons textos, gramáticas e dicionários para dominar a riqueza e as possibilidades que a língua oferece. O salto qualitativo implica dedicação, esforço e investimento continuado em recursos humanos e materiais. A meta é a excelência.
Oferecer como modelo um livro eivado de barbarismos é apostar na manutenção da ignorância. É desqualificar o tempo que os alunos investem na escola. É acreditar que os matriculados nas instituições públicas não aspiram à melhora das condições de vida. É investir na mediocriadade. É jogar o dinheiro dos brasileiros pelo ralo. É condenar o país a andar para trás. É cometer crime de leso-futuro.
Tornou-se lugar-comum afirmar que a educação é o calcanhar de aquiles do Brasil. Há quatro décadas o governo abdicou da qualidade do ensino em prol da quantidade. Com o crescimento da economia, descobriu que lhe faltam cérebros e mão de obra qualificada. Chegou ao pior dos mundos. Com exército de desempregados, precisa importar trabalhadores.
A presidente recém-empossada, no primeiro pronunciamento à nação pela tevê, fez uma ode à educação ao afirmar que a única fome admissível é a fome do conhecimento. O MEC vai na contramão da presidente. Por um lado, ao adotar livro que ensina erros de português. Por outro, ao manter a obra em salas de aula. Com a palavra, Dilma Rousseff.
(Editorial de hoje do Correio Braziliense)
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