Oba! Domingo vamos às urnas. Os brasileiros escolherão o presidente, o governador, senadores e deputados. É uma senhora responsabilidade. Jornais, rádios e tevês se organizam pra informar os eleitores em tempo real. Muitos publicam calendário diário. Nele, a contagem regressiva. Aí, a porca torce o rabo. Tropeçam em velha cilada gramatical. Trata-se da confusão entre o verbo haver e a preposição a.
Eis a armadilha: “Estamos …dias da eleição”. A ou há? Vale a revisão. O há indica passado. O a, futuro. Ora, como o Dia D não chegou, falamos do porvir. O a pede passagem — com banda de música e tapete vermelho: Estamos a quatro dias da eleição. Daqui a dois meses, o Palácio do Planalto terá novo morador. A poucos minutos do início do programa, os apresentadores estão nervosos. Aguarde. Chego daqui a pouco.
Por falar em tempo…
O futuro é leve. Cheio de esperança, fica satisfeito com uma letrinha — a preposição a. O passado joga em outro time. Experiente, carrega o peso do saber. Exige, por isso, algo mais que uma simples letra. Com ele, é a vez do verbo haver: Cheguei há pouco, há menos de dois minutos. A campanha eleitoral começou há dois meses, mas só pegou fogo há poucos dias com a montanha de denúncias que pintam a torto e a direito.
Olho na redundância
“Matamos o tempo; o tempo nos enterra”, escreveu Machado de Assis. Devia estar pensando em redundâncias que desmoralizam pessoas que vivem do escrever ou falar. São duas. Uma: há…atrás. A outra: a partir…começar. Olho nas duplas. Elas são tão sofisticadas que nos enganam como bobos na casca do ovo.
Há indica tempo passado. Atrás também. Juntar os dois (há dois anos atrás)? Valha-nos, Deus! Manda o bom senso ficar com um ou outro: Cheguei há duas horas. Cheguei duas horas atrás. A campanha começou há dois meses. A campanha começou dois meses atrás.
A partir indica começo de ação. Começar também. Dizer “a partir de janeiro começa o mandato dos eleitos”? É a receita do desperdício. Poupemos. Escolhamos só um: Em janeiro, começa o mandato dos eleitos. A partir de janeiro, os eleitos mostrarão se mereceram o voto dos brasileiros.
Lição mineira
Na contagem de tempo, vale o conselho do velho pai mineiro. Quando o filho se preparava para a primeira saída noturna com os amigos, o paizão lhe diz:
— Meu filho, não saia. Se sair, não gaste. Se gastar, não pague. Se pagar, pague só a sua.
É isso. Nas expressões que indicam contagem de tempo, poupar é preciso. Não desperdice.
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