“Sem a presença de artistas, público em comício mingua”, escreveu a Folha de S.Paulo. Leitores do jornal estranharam. O xis da questão: o acento. O verbo pede ou não pede o agudinho?
Ele não pede. Exige. Minguar se conjuga como aguar. Ambos são cheios de pegadinhas. Ora pedem acento. Ora, trema. E, às vezes, esnobam um sinal e outro. Aprecie as manhas da duplinha:
Eu águo (mínguo), ele água (míngua), nós aguamos (minguamos), eles águam (mínguam); eu agüei (mingüei), ele aguou (minguou), nós aguamos (minguamos), eles aguaram (minguaram); que eu ágüe (míngüe), ele ágüe (míngüe), nós agüemos (mingüemos), eles ágüem (míngüem).
O porquê
Complicado? Nem tanto. O trema se usa sobre o u dos grupos gue, gui e que, qui. Com uma condição: se o u for pronunciado e átono. Compare:
aguerrido — agüentar
águia — lingüiça
requentar — freqüentar
aquilo — tranqüilo
Abra o olho. O trema não é acento. Ele só avisa que o u tem vez. Nada impede, por isso, que uma palavra tenha dose dupla — acento e trema.
É o caso de míngüe & gangue. O acento se justifica por a palavra jogar no time das paroxítonas terminadas em ditongo. Valem os exemplos de órgão, tênue, órfão. E por aí vai.
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