Ariel cursa a 7ª série em escola particular de Brasília. Estudioso, vai fundo nos assuntos. Consulta gramáticas, dicionários, blogs na internet. Na busca da resposta, conversa com pessoas e consulta especialistas. Vale tudo pra apagar o ponto de interrogação da cabeça.
Outro dia, fez uma prova de português. Encarou as questões com serenidade. Na hora de conferir o gabarito, ops! O professor considerou errada a opção que ele escolheu como certa. O garoto não concordou. Há duas semanas os dois discutem. O mestre não consegue convencer o aluno. O aluno não consegue convencer o mestre. A mãe decidiu pôr ponto final na querela. Que tal ouvir uma terceira opinião? Encaminhou, então, a consulta ao blog. O pomo da discórdia
Em “Eu vivia com fome, mal-humorada e nada adiantou. Até emagrecia, mas logo engordava de novo”, o verbo vivia indica:
a. ação cotidiana no passado e já concluída b. ideia de continuidade da ação num momento passado
Ariel optou pela letra a. O professor, pela b. E daí?
O xis da questão
A questão que tira o sono do Ariel se relaciona ao tempo. Aí, temos de observar dois aspectos. Um: a ação expressa pelo verbo. O outro: o momento em que se fala.
a. O presente, por exemplo, indica que a ação se passa no mesmo momento em que se fala: Estudo português. Trabalho 12 horas por dia. Moro em Brasília.
b. O futuro indica que a ação será praticada depois do ato de falar: Amanhã vou estudar português. Daqui a seis meses haverá eleições. Paulo vai chegar daqui a pouco.
c. O pretérito indica que a ação foi praticada antes do ato de falar. É aí que a porca torce o rabo. Há antes e antes:
Ontem estudei para a prova.
Viu? A ação de estudar está completamente acabada em relação ao momento em que se fala. Daí o nome: pretérito perfeito. É passado totalmente acabado antes do presente.
*
Eu estudara (= tinha estudado) quando ele chegou.
Observou a manha? A ação de estudar é anterior a outro passado em relação ao momento em que se fala. Daí ser pretérito mais-que-perfeito. É passado anterior a outro passado.
*
Eu estudava quando ele chegou.
Olho vivo! A ação de estudar estava em curso quando outra ocorreu (ele chegou). Daí ser imperfeito. A coisa se passa assim: o falante está no presente. Olha pra trás. Vê duas ações. Uma acabada (chegou). A outra inacabada (estudava).
Outro exemplo:
Quando criança, eu estudava inglês.
Trata-se de ação continuada no passado. Em relação ao presente, ela acabou? Sabe-se lá. Pode ter acabado (parei de estudar). Pode não ter acabado (estudava e continuo a estudar). Vaca fria
E daí? É nesse terreno movediço que a questão se pautou. “Eu vivia com fome, mal-humorada.” O vivia diz que a ação não foi praticada uma só vez. Era usual. Acabou? Em relação ao presente, pode ter acabado (eu não mais passo fome nem fico mal-humorada). Pode, também, continuar (no passado, eu vivia com fome e mal-humorada. No presente, também).
Moral da história: o Ariel apostou que a personagem desistiu das infantilidades. Concluiu que a tal história de passar fome e fazer cara feia não estava com nada. Partiu pra outra. O professor preferiu não avançar. Ficou no passado. São interpretações diferentes. Ambas certas.
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