Carlos leu esta chamadinha no jornal: “Aprovados em concurso migram para outras áreas em busca de salário melhor, como Adriano Barros”. Alguma coisa lhe pareceu estranha. Leu-a outra vez. Mais outra. O incômodo permaneceu. Mas a resposta teimava em brincar de esconde-esconde. Decidido, o leitor recorreu ao blogue. “Quem está certo — eu o texto?”, perguntou.
Nota 10 pra você, Carlos. A esquisitice tem nome. É colocação. E tem irmãozinhos que pululam língua afora. “Comprei uma meia de mulher de náilon” é pra lá de conhecido. No texto, o de náilon se refere à mulher, não à meia. Algo parecido ocorre com a frase em pauta. Escrever Adriano Barros depois de salário melhor deu este recado: Adriano Barros é salário. Valha-nos, Deus.
Limites do vaivém
As palavras gozam de plena liberdade. Desenvoltas, passeiam pela frase. Às vezes, o sujeito aparece no início da oração. Outras, no meio. Aqui e ali, no fim. Boa parte dos termos lança mão do privilégio sem cerimônia. Mas o vai e vem tem limite. O freio reside na exigência da clareza e da coerência. Para evitar ambiguidades, amarre cada termo determinante ao respectivo termo determinado.
Em bom português: aproxime lé de lé e cré de cré. Adriano Barros aparece na história como exemplo dos migrantes para outras áreas. Que tal colocá-lo no lugar certo? Assim: Aprovados em concurso, como Adriano Barros, migram para outras áreas em busca de salário melhor.
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