A mocinha de família foi ao ensaio de uma escola de samba. Chegando lá, um folião suado, banguela, vestido com a camisa de time popular pediu pra dançar com ela. Pra não ser preconceituosa, a jovem aceitou. Mas o cara transpirava tanto que a coitada chegou ao limite. Afastou-se e disse:
— Você sua, hem?
Ele a puxou, lascou-lhe um beijo e respondeu:
— Beleza, gata…. excrusive vô sê seu tamém! É nóis!
É isso. De vez em quando, ocorrem encontros indesejados. Na língua também. O fim de uma palavra se junta com o começo de outra. Cria-se, então, uma penetra:
Pagou R$ 10 por cada peça.
Lá tinha muitos amigos.
Deu uma mãozinha à vizinha.
Maria diz que nunca ganha nada na loteria.
Os fatos calaram a boca dela.
Acredite. Os cacófatos, indelicados e espaçosos, não passam despercebidos. Como pô-los fora da frase? A leitura em voz alta os denuncia. As possibilidades da língua os expulsam:
Pagou R$ 10 por peça.
Tinha muitos amigos lá.
Deu ajuda à vizinha.
Maria diz que jamais ganha nada na loteria.
Os fatos lhe calaram a boca.
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