Letras garrafais
Márcio Cotrim
Dá para perceber que letras garrafais tem a ver com o tamanho de garrafas. Habitualmente se refere a manchetes escandalosas alusivas a algum fato de grande repercussão.
Importantes eventos políticos como o resultado de uma eleição, a morte de alguma figura pública muito conhecida, vitórias espetaculares no esporte, tudo isso leva os jornais a destacar os feitos com fortíssimo destaque nas primeiras páginas.
Nesse caso, por exemplo,a conquista da Copa do Mundo em 1970, no México, pela seleção brasileira de futebol, em memorável partida contra a Itália. Um grande jornal paulistano abriu manchete garrafal na primeira página com a vibrante exclamação: TRI!, levando os leitores e -– praticamente todo o povo brasileiro — a assumir essa condição.
Não atentou (talvez pela forte emoção do momento) que não se tratava da conquista de um tricampeonato, mas de um terceiro título. A explicação é óbvia: as conquistas não consecutivas – como era o caso, pois o Brasil só ganhara duas Copas sucessivas, aí sim, tornando-se bicampeão, na Suécia e no Chile em 1958 e em 1962 – não merecem ser consideradas tri, ou tetra, etc., pela singela razão de que com isso desvalorizamos as conquistas consecutivas, muito mais expressivas, não é?
Nesse caso, mérito especial para o América, campeão do estado de Minas Gerais em todos os anos entre 1917 e 1926 e mui justamente festejado como decacampeão. A adotar a fórmula que virou coqueluche no país – o Brasil hoje tido como pentacampeão mundial – chegaremos ao absurdo de considerar, por exemplo, o Fluminense, campeão carioca por 31 vezes, como triundecacampeão do Rio de Janeiro! Bem que os tricolores gostariam, mas você já soube de algum fanático torcedor a festejar o clube das Laranjeiras como triundecacampeão do Rio?
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