Virar a casaca Márcio Cotrim
É trocar de lado, mudar de time, abandonar certos princípios em favor de outros – Paulo Francis foi bom exemplo disso – e, no terreno político, deixar um partido e bandear-se para outro por pretextos vários. Atitude condenável, em princípio, demonstração explícita de falta de coerência nem sempre justificada.
O berço da expressão remete a Carlos Manuel III, duque de Savóia e rei da Sardenha. Vivia o monarca em grande inquietude, ora ameaçado pela Espanha, ora pela França. Para defender-se do assédio que ameaçava sua soberania, mudava as cores da casaca de gala de acordo com as cores de seus aliados do momento, fossem franceses ou espanhóis. Esse contínuo troca-troca de roupa, vestir e desvestir foi o que o manteve no poder durante nada menos que 43 anos. Quanto contorcionismo!
Outro famoso vira-casaca da História foi o ministro francês Joseph Fouché, magistralmente biografado por Stefan Zweig. Doze vezes trocou de partido segundo a conveniência da hora. Graças a tanto jogo de cintura, acabou passando décadas mandando e desmandando na França e dando solene banana para a coerência.
Entre nós, no campo da política partidária, virar casaca tornou-se acintosa rotina. Para dizer o mínimo, um desrespeito ao eleitor, que, pelo menos teoricamente, escolhe seu candidato de acordo com um programa, um ideário. De repente, o político ignora quem lhe deu o mandato e corre para outra legenda, muitas vezes completamente oposta. Terra de Macunaíma é assim mesmo.
Por falar em casaca, a torcida do Vasco da Gama, em outros tempos, tinha famoso grito de guerra que deve avivar a lembrança de muito leitor coroa: “Casaca, casaca, casaca!/ A turma é boa, é mesmo da fuzarca! Vasco! Vasco! Vasco!” Quem viveu, ouviu.
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