É Vossa Excelência pra cá, Vossa Excelência pra lá. No meio, um senhor barraco. Nos tempos da vovó, falava-se em briga de lavadeira. Com a chegada da máquina de lavar e do politicamente correto, a expressão caiu em desuso. Deu a vez ao bate-boca. Lavadeiras ou bocas, o núcleo se mantém. Trata-se de baixarias — golpes abaixo da cintura.
Na segunda, o Senado voltou do recesso em pé de guerra. Armou um barracão. Embaladas em excelências, choveram duas horas de acusações. Pedro Simon começou. Da tribuna, mirou Renan Calheiros:
— Vossa Excelência foi à China fazer acordo com o Collor. Depois, na hora H, o abandonou.
Renan trouxe à tona outra história:
— Vossa Excelência foi no gabinete do senador Sarney dizer que o apoia. Aqui, muda o discurso.
O sangue subiu à cabeça de Collor. Com o olhar duro e a voz de aço, enquadrou Simon:
— Vossa Excelência diz palavras que eu não aceito. Quero que as engula e as ingira. Me trate como sempre lhe tratei. Evite pronunciar meu nome. Se o fizer, vou contar fatos sobre o senhor.
— Então conte.
— Contarei quando quiser e achar oportuno.
O espetáculo prosseguiu. Nós ficamos por aqui. Com uma incumbência — apurar se Suas Excelências tratam a língua tão bem quanto tratam os pares. O resultado? Ei-lo. De ir e voltar
“Vossa Excelência foi à China fazer acordo com o Collor”, disse Simon. “Vossa Excelência foi no gabinete do senador Sarney dizer que o apoia”, respondeu Renan. Viu? Ambos usaram o verbo ir. Mas com preposições diferentes. Um disse “foi à China”. O outro, “foi no gabinete”. Quem está certo?
Ir a indica deslocamento breve. Quem vai a algum lugar está passeando ou trabalhando. Volta em pouco tempo: Foi ao clube. Fui ao banheiro. Amanhã vamos ao shopping.
Ir para anuncia deslocamento longo. Em geral implica mudança. Ir para não mais voltar. Ou não voltar logo. É o caso de nossa conhecida frase “vá para o inferno”. Em outras palavras: Vá e fique por lá. Não volte.
Lembra-se do poema de Manuel Bandeira? O poeta quer fazer as malas e dizer adeus. Acertou na preposição: “Vou-me embora pra Pasárgada./ Lá sou amigo do rei./ Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei”.
De volta à vaca fria: Renan pisou a língua. Para ser perdoado, terá de dizer “foi ao gabinete”. Dirá?
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