As consoantes são loucas por disfarces. Com elas, retornam os tempos das saturnais romanas. Eram festas que celebravam a volta da primavera. A estação simboliza o renascer da natureza depois do rigor do inverno. Era período alegre. Os servidores públicos entravam em recesso. Os tribunais fechavam as portas. Nenhum criminoso podia ser punido. Libertavam-se os escravos pra assistir aos festejos. As famílias ofereciam banquetes.
Durante as celebrações, invertiam-se posições sociais. Os escravos davam ordens aos senhores. Os senhores lhes serviam iguarias à mesa. Todos se mascaravam pra se sentirem mais à vontade. Há quem diga que as máscaras nasceram aí. Verdade ou fantasia, uma coisa é certa. As consoantes adoraram a indumentária. Usam-na às claras. Elas obedecem a várias leis. Uma delas: quanto mais confusão melhor. Pra obedecer à determinação, nada mais adequado que usar e abusar das máscaras. Com elas, uma letra multiplica os sons. E, claro, dá nó nos miolos dos pobres mortais.
X
Vale o exemplo do x. A danadinha adora trocar os disfarces. Em certas palavras, pronuncia-se ch (enxoval). Em outras, z (exame). Em outras, ainda, s (excelência). Chega? Não. Há os casos em que a gloriosa soa ks (táxi). Ufa!
C
Uma ilustre senhora tem fascínio por fantasias, máscaras e badulaques. Quem é? É a letra c. Seguida de a, o e u, soa k (casa, coisa, cuia). Seguida de e e i, pronuncia-se cê (cedo, cidade). Partidário do s, o c teima em soar cê quando seguido de a, o, u. Recorre, então, à marca que faz o Brasil Brasil. Dá um jeito. Calça um sapatinho e ganha a parada (calçado, aço, açude).
S
O s, então, abusa. No começo da palavra, soa cê (sala). Entre duas vogais, z (pesquisa). É aí que a porca torce o rabo. Caprichoso, o versátil quer manter a originalidade entre duas vogais. Impossível? Ele dá um jeito. Apresenta-se em dose dupla (massa). Mantém a originalidade também quando aparece entre vogal e consoante (cansar). Ops! Em trânsito, ele se exibe entre n e i. Mas soa z. Quem entende?
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