O Al Martin ― que tem sentimentos monárquicos e é chegado a um cerimonialzinho ― leu o seu post Santidade e alteza 3 e gostou muito dele. Contou-me que lhe veio à memória um fato verídico ocorrido faz muitos anos, numa época em que ainda não éramos nascidos.
Muitos anos atrás, uma cidadezinha do interior preparava-se para receber a visita do bispo da diocese, acontecimento de grande importância. Estavam todos nervosos. Ninguém sabia direito como se dirigir ao religioso.
O prefeito foi então perguntar ao professor do colégio. Este último coçou a cabeça, fez um ar desconsolado e resmungou, visivelmente contrariado:
― Olhe, seu prefeito, não posso lhe garantir cem por cento, mas acho que se o senhor chamar de Vossa Excelência ele não há de se ofender”.
Por fim, chegou o grande dia. Sol a pino, calor infernal. Na plataforma da estação da estrada de ferro, a bandinha de música se esmerava num dobrado e as crianças endomingadas agitavam bandeirinhas. Chega o trem. Desce o eclesiástico, atarracado, gordo, arfante, se abanando com uma ventarola. Passo miudinho, transpirava em bicas, o coitado. A alva, a túnica, a casula e a dalmática, superpostas, causavam-lhe insuportável desconforto térmico.
Após uma tímida reverência, o prefeito pergunta:
― Vossa Excelência está… cansada?”
O bispo, cara fechada, olha bem no olho do prefeito, que empalidece. Foi apenas um instante, mas ao prefeito pareceu uma eternidade.
O prelado revira o olho para cima, torce a mão e responde com voz estridente:
― Cansada? Eu? Estou é moooorta!