DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@diariosassociados.com.br
Vão longe os tempos em que estudantes mudavam o enredo da história. A UNE enfrentou a ditadura. Movidos pelo idealismo próprio da idade, jovens promoviam passeatas, pichavam muros, enfrentavam a polícia, o poder e as regras em vigor. Mais recentemente, caras-pintadas foram às ruas e exigiram a queda do presidente de plantão. Conseguiram. Hoje a moçada parece em outra. Adepta do pragmatismo, quer chegar ao milhão de dólares antes dos 30 anos.
Alunos da Universidade de Brasília aliaram os extremos. Criaram a Strategos — Empresa Jr. de Consultoria Política. O grupo faz pesquisas e promove debates. Na terça, com base em levantamento sobre a participação feminina na política, convidou a deputada baiana Lídice da Mata e a distrital Erica Kokai para discutir o assunto. A questão: por que as mulheres não disputam cargos eletivos? A pergunta procede.
Pertencem ao sexo feminino nada menos que 52% da população — 99,8 milhões do total de 191,5 milhões de brasileiros. Mas a presença delas em cargos eletivos é um fiasco. Segundo a União Interparlamentar, são 11 senadoras, 45 deputadas federais, 106 deputadas estaduais, três governadoras e 503 prefeitas. Por que a inapetência? Antes se culpavam os partidos políticos por discriminarem a mulher. Hoje há a cota. Pelo menos 30% das candidaturas têm de pertencer a sexo diferente. Mas as agremiações não conseguem o percentual de postulantes.
As convidadas apontaram razões. Uma delas: a organização da sociedade — patriarcal e patrimonialista — inibe a vontade de participar. Lugar da mulher é em casa. A rua pertence ao homem. Quando alguma corajosa ousa quebrar a lógica, sofre ataques que não lhe atingem a atuação profissional, mas a moral. Mais: impera a ditadura da perfeição. Exige-se da mulher muito mais que do homem. Discriminação invisível responde pelo sentimento de culpa. O filho adoeceu? Culpa da mãe que não olha pra criança. Faltou comida na despensa? É a dona da casa que não cumpre as obrigações. O filho se envolveu com drogas? Pudera! Sem mãe…
É lugar-comum falar na dupla jornada da mulher trabalhadora. A política tem tripla jornada. Como fazer campanha, convencer o eleitor, participar de programas eleitorais se o emprego e a casa esperam por ela? Alia-se a isso a falta de apoio dos partidos, que não investem na candidatura feminina. A professora Lúcia Avelar, também presente ao evento, concluiu: “Falar em igualdade é fácil. Fazer a igualdade é que são elas”.