Falou em pirâmides? A primeira imagem que vem à mente são as do Egito. Os blocos triangulares desafiam o tempo. Não é sem razão que a de Quéops se tornou uma das sete maravilhas do mundo antigo. Mas há outras pirâmides. Uma delas: a pirâmide invertida. Há quem a considere tão importante que a poria entre as sete maravilhas do mundo moderno. O que é?
A criatura nasceu no jornalismo. O New York Times deu-lhe corpo em 1861. Foi o jeito de frear a veia literária de repórteres que embarcavam em sonhos labirínticos até chegar à notícia. (Se é que chegavam.) Impunha-se dar objetividade ao relato de um acontecimento. Como? Bastava apresentar as informações mais importantes no primeiro parágrafo. Elas se resumem a seis perguntas: o quê?, quem?, quando? onde?, como? por quê?
Assim, lido o primeiro parágrafo, tem-se a história completa. Os demais oferecem pormenores de cada item das perguntas. O segundo explica o quem; o terceiro, o o quê; o quarto, o onde. E assim sucessivamente. Se faltava espaço na página, o corte começava pelo último parágrafo. E subia. Se o leitor não percebesse as tesouradas, o texto recebia nota 10. A moda pegou
Ops! A moda pegou. Um século e meio depois, convivemos com a pirâmide invertida com a naturalidade de quem anda pra frente. Em convites, notícias, bate-papos, lá estão as respostas às seis perguntinhas marotas. Encontrá-las nem sempre é fácil. São tantos os dados secundários, tantos os detalhes com aparência de importantes que chegar ao essencial constitui exercício de garimpagem. Debaixo da montanha de emaranhados, reluz o diamante. É o óbvio. Olha a pirâmide invertida
Jornais, rádios, tevês, internet recorrem à pirâmide invertida para apresentar a notícia:
1. A chamada do telejornal anuncia: O Salgueiro perdeu 10 pontos no desfile de domingo da Sapucaí porque entrou com 10 minutos de atraso.
2. O convite para a missa diz: A família Tal convida para a missa de sétimo dia pela alma de Fulano no dia tal, igreja tal, horário tal.
3. A notícia do jornal: Em pleno carnaval, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, convocou reunião da equipe para quinta-feira em São Paulo. A pauta: medidas para desvalorizar o real frente ao dólar.
A descoberta do óbvio
Preste atenção em conversas de amigos, marido e mulher, colegas de trabalho. Eles falam sobre assuntos corriqueiros. Usam, sem nunca ter ouvido falar nelas, as seis perguntas. Leia o diálogo em que Maria conta a Luíza que está com namorado novo:
— Sabia? Estou com namorado novo.
— Quem é ele?
— Você não o conhece. É Paulo, argentino que mora no meu prédio.
— Como você o conheceu?
— No elevador. Estava carregando sacolas de compras. Ele se ofereceu pra me ajudar.
— Quando foi?
— Na véspera do réveillon.
— Como decidiram namorar? — Conversando, descobrimos que gostamos das mesmas coisas. De papo em papo…
Moral da história
Os teóricos do jornalismo ensinam preciosa lição a quem sofre diante da folha em branco ou da tela do computador. A mais importante: antes de escrever, pense de forma ordenada, lógica e prática. As ideias estão na cabeça. Torne-as claras. Este roteiro ajuda:
1. Resuma a história como se você a estivesse contando para uma criança de 8 anos.
2. Responda às seis perguntas mágicas nesta ordem (as respostas não podem, não podem mesmo, ultrapassar duas linhas): O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê?
3. Escreva o texto.
4. Enxugue o escrito. Diminua, corte, jogue na lixeira palavras desnecessárias.
5. Leia e releia a obra. Avalie-a. Se sobrar ou faltar algo, não hesite: reescreva-a. Ernest Heminguay reescreveu 28 vezes o último capítulo de Adeus às armas até se sentir satisfeito.
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