A reforma ortográfica 1

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A reforma ortográfica altera 2% das nossas ricas palavrinhas. É pouco. Mas as reações são muitas. Alguns aplaudem. Muitos criticam. Os favoráveis afirmam que as mudanças darão unidade à língua. Os oito países lusófonos passarão a grafar os vocábulos do mesmo jeitinho. Com isso, livros, revistas, jornais, documentos circularão com desenvoltura lá e cá.

Os do contra alegam a inutilidade da alteração. Se o objetivo é unificar a grafia, a reforma fracassou. Portugal mantém suas diferenças. O Brasil também. Lisboa & seguidores continuarão a escrever acto, facto e António. Brasília exibirá ato, fato e Antônio. Mais: as mudanças são tão tímidas que se perde bela oportunidade de simplificar — de verdade — a escrita. Citam o exemplo do hífen.

O que muda

Atenção, muita atenção. A reforma é ortográfica. Só atinge acentos e letras. Pronúncias, concordâncias, regências, flexões, etc. e tal estão fora. Não foram nem sequer arranhadas. Postos os pontos nos is, eis as novidades.

Alfabeto

O alfabeto engorda. Com a entrada do k, w e y, passa a ter 26 letras.

Trema

O trema some. Freqüente, tranqüilo, lingüeta, lingüiça & cia. passam a se escrever frequente, tranquilo, lingueta, linguiça. Atenção, moçada. Não se precipite. A reforma só atinge a grafia. A pronúncia se mantém. Mesmo sem o trema, o u da turma hoje tremada se fará ouvir.

Acentuação gráfica

Olho vivo! As mudanças na acentuação gráfica só atingem as paroxítonas. As oxítonas, proparoxítonas e monossílabos tônicos ficam como dantes no quartel de Abrantes. Eis os toques e retoques:

a. os ditongos éi, ói viram ei, oi: idéia e jóia se escreverão ideia, joia
Abra os olhos: só o grampinho das paroxítonas se vai. O das oxítonas e o dos monossílabos tônicos permancem firmes e fortes: papéis, herói, dói.

b. o chapéu do ditongo ôo dá adeus: vôo, abençôo e perdôo viram vira voo, abençoo e perdoo.

c. o circunflexo do hiato êem que aparece na 3ª pessoa do plural dos verbos ler, ver, crer, dar e derivados bate asas e voa: eles lêem, vêem, crêem, dêem, relêem & cia. se grafarão eles veem, creem, deem, releem.

d. Os acentos diferenciais usados em pêlo, pélo, pára, pólo, pêra se despedem. As palavras ganharão forma mais leve — pelo, para, polo, pera.
Atenção, atenção! Mantém-se o chapéu de pôde e do verbo pôr (monossílabo).

e. o agudão do u tônico dos verbos apaziguar, averiguar, argüir S.A vai plantar batata na esquina: apazigúe, averigúe, argúem se grafarão apazigue, averigue, arguem.

f. o i e u antecedidos de ditongo perdem o grampo. Feiúra vira feiura.

Hífen

A reforma trocou seis por meia dúzia. Mantém a confusão. O hífen será assunto das próximas colunas.

Quando?

Não se precipite. As mudanças não têm data para entrar em vigor. Pelo andar da carruagem, devem começar a valer no ano que vem. Haverá período de adaptação de dois anos. De 2009 a 2011 conviverão as duas grafias. Provas, concursos, documentos oficiais podem ser escritos à antiga ou à moderna. Depois, só a nova forma terá vez.

Dad Squarisi

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