A festa dos sinais

Compartilhe

As pessoas nascem com talentos. Umas vêm ao mundo pra falar. Outras, pra ouvir. Augusto Marzagão pertence ao primeiro time. Com uma especialidade: conta piadas.

Outro dia, conversava com estudantes. O papo girava em torno da redação. Todos tinham observações. Um comentou a organização do texto. Outro, a importância do vocabulário. Boa parte da moçada confessou a dificuldade de pontuar.

Entre vírgulas e pontos, Marcos disse:

— ­ O que me encuca são os dois-pontos. Acho-os charmosos. Mas não tenho coragem de dar-lhes vez. Na dúvida, recorro ao jeitinho. Uso ponto. Sempre me saio bem.

Marzagão aproveitou a deixa. Sem pressa, contou esta história:

— Os asteriscos davam uma festa. Rolava boa música. Sobrava comida gostosa. Não faltavam convidados interessantes. Os salões explodiam em luzes e brilhos. A moçada do cabelo arrepiado rodopiava na pista.

Lá pelas tantas, ouviu-se uma discussão. Um ponto insistia em entrar. Não o deixavam. No bate-boca, o intruso perguntou:

— Por que não posso participar da alegria?

— Porque é exclusiva de asteriscos. Você é ponto. Se entrar, a festa acaba. Inconformado, o penetra se saiu com esta:

— Vocês se enganam. Eu também sou asterisco. Só que passei gel no cabelo.   Asterisco (*)

O asterisco pertence a família brilhante. Vem do grego aster, que quer dizer estrela. É irmãozinho de asteróide, também do time dos astros. O asterisco não vive só de festa. Ele tem papel no texto: chama a atenção do leitor para alguma observação ou nota feita no fim do artigo ou da página. Sempre que a estrelinha aparecer, abra o olho. Vem coisa no fim.   Dois-pontos (:)

A duplinha tem quatro empregos. Todos fáceis como andar pra frente. Mas eles impõem um cuidado: prestar atenção às maiúsculas e minúsculas. Depois do parzinho, ora a grandona tem vez. Ora, a pequenina.

As crescidinhas pedem passagem:

1. nas citações: Fernando Pessoa escreveu: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”.

2. nos diálogos, para introduzir a fala de alguém

“Imagino Irene entrando no céu: –­ Licença, meu Branco? E São Pedro bonachão: ­ — Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.”

***

As pequeninas aparecem:

1. nas enumerações Na livraria, comprou três dos livros recomendados pelo professor: o clássico Raízes do Brasil; o instigante Um rio imita o Reno; e o sempre atual Casa grande & senzala.

3. nas exemplificações, esclarecimentos ou consequências do que foi dito:

Previsão de Lula: as reformas saem este ano. O ministro reage: não quer sair do governo.

Dad Squarisi

Publicado por
Dad Squarisi

Posts recentes

  • Dicas de português

Dicas de português: Páscoa, coelhinhos e chocolate

A língua é pra lá de sociável. Conversa sem se cansar. E, no vai e…

2 anos atrás
  • Dicas de português

Os desafios da concordância com porcentagem

Porcentagem joga no time dos partitivos como grupo, parte, a maior parte. Aí, a concordância…

2 anos atrás
  • Dicas de português

Você sabe a origem do nome do mês de março?

O nome do mês tem origem pra lá de especial. O pai dele é nada…

2 anos atrás
  • Dicas de português

O terremoto na Turquia e a língua portuguesa

Terremoto tem duas partes. Uma: terra. A outra: moto. As quatro letras querem dizer movimento.…

2 anos atrás
  • Dicas de português

Anglicismos chamam a atenção na língua portuguesa

As línguas adoram bater papo. Umas influenciam as outras. A questão ficou tão banalizada que…

2 anos atrás
  • Dicas de português

A simplicidade na escrita dos nomes de tribos indígenas

Nome de tribos indígenas não tem pedigree. Escreve-se com inicial minúscula (os tupis, os guaranis,…

2 anos atrás