Monteiro Lobato repetia: “Um país se faz com homens e livros”. E completava: “Os livros não mudam o mundo. Mudam os homens. Os homens é que mudam o mundo”. O criador de Narizinho, Pedrinho, Emília, Jeca Tatu e tantas outras criaturas que povoam nosso universo sonhava inundar o Brasil de livros. Dar opção aos leitores. Sabia que livro não se impõe. Escolhe-se. “Uma leitura com cobrança”, dizia convicto, “é capaz de vacinar a criança para sempre.”
Feiras do livro proliferam Brasil afora. Muitas abandonam o nome feira e assumem o que realmente são — festa. A feira é uma festa. Um pavilhão, uma praça, um shopping se tornam espaço mágico. Ali personagens viram gente, autores perdem o sagrado, o público confraterniza com uns e outros. Cria-se a intimidade que só o contato proporciona.
Livros e livros ao alcance da mão abrem as portas da liberdade. O visitante pode apenas olhar as obras, pode tocar uma ou outra, pode ler qualquer coisa, ler uma frase aqui e outra ali, reler, deixar o texto pela metade, olhar as imagens, pular página. Ou não ler. É direito que a generosidade da feira lhe assegura.
Se os livros mudam os homens, os homens mudam o mundo — e todos queremos um mundo melhor — o caminho mais óbvio é formar leitores. Eis o nosso desafio. Formar leitores passa por dois caminhos. Um: o acesso ao livro. O outro: o domínio do código linguístico. A pessoa precisa ler e entender.
Quem apenas marca presença na escola — sem subir os degraus do conhecimento — está irremediavelmente condenado à marginalidade. Com a internet, voltamos à era alfabética. Tempos atrás pensávamos ter entrado na civilização das imagens. Mas o computador nos devolveu à galáxia de Gutemberg. Somos obrigados a ler e a escrever.
O mundo questiona o papel da escola na era digital. Com o saber ao alcance de um toque, não faz sentido o professor transmitir conhecimento. Não faz sentido os alunos se sentarem um atrás do outro, como o exército romano. Cada um tem seu ritmo e seus interesses. Não faz sentido impor um conteúdo quando conteúdos se oferecem a cada clicar. Não faz sentido aplicar uma prova quando não se sabe o que cobrar dos admiráveis estudantes novos.
A educação está numa enrascada. Sabe o que não lhe serve. Mas não sabe o que pôr no lugar. No mar de incertezas só há uma certeza. Ler é condição para navegar. Seja no suporte papel, seja no digital, a leitura se impõe. E, ao lado dela, a escrita. Nunca tivemos tanta necessidade de ler e escrever como agora. E nunca foi tão difícil aprender a ler.
Não falo na baixa qualidade do ensino — que no Brasil se agrava dia a dia e nos joga na rabeira do atraso. Falo na revolução tecnológica que impõe desafios inéditos. O computador expandiu o alfabeto. Hoje não lidamos só com 26 letras, três acentos, hifens e travessões. Integramos novos signos e novas chaves. Precisamos dominá-los pra chegar à comunicação eficaz.
As feiras, as festas, as bienais motivam adultos e crianças. Promovem a leitura. Exercitam discussões. Fazem o que Lobato sonhou. Dão opção aos leitores. Os leitores escolhem. É a perdição. Leitura sem cobrança é prazer na veia. Vicia.
(Discurso proferido na abertura da 30ª Feira do Livro de Brasília, da qual sou patrona. A feira — linda e cheia de atrações –, se estende até 20 de novembro das 10h às 22h.Vale a visita.)
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