“A morte”, dizem alguns, “é merecimento.” A gente só vai pro céu depois de zerar as obrigações na Terra. Os que ficam sofrem. Os que partem ganham asas. Podem, até, cobrar as dívidas da vida. Foi o que fez Armando Nogueira. Aqui, amou e foi amado. Tinha três paixões — a bola, o Botafogo e os amigos. Só uma não lhe retribuiu o sentimento — a redonda. Ao chegar à casa do Senhor, bolas o esperavam.
Pegou a de gude. Tecou todas. Passou pra de basquete. Acertou as cestas. Apanhou a de tênis. Depois a de vôlei. Marcou pontos sem fim. A de futebol ficou pro fim. Abraçou-a com delicadeza. Ela retribuiu. Com sorriso maroto, ele descobriu que a frase feita para o rei podia ter outro personagem. “Se Pelé não fosse homem, seria bola”, escreveu em uma das crônicas. Na casa de Deus e também de Garrincha e Didi, ele ousou: “Eu sou bola”. Ao lado, o Senhor calçava as chuteiras. No peito, a estrela solitária.
Paixão em frases
Armando Nogueira tinha amores. Com vocação para a felicidade, não se privava de nenhum. Curtia o esporte, a aviação, os amigos. Mas uma obsessão o perseguia. Era a palavra. Zuenir Ventura a sintetizou: “Ele fez com a palavra o que Pelé e Garrincha fizeram com a bola — uma obra de arte”. Eis exemplos:
“Copiar o bom é melhor que inventar o ruim.” “Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio.” “A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus.” “Gol de letra é injúria; gol contra é incesto; gol de bico é estupro.” “No futebol, matar a bola é um ato de amor. Se a bola não quica, mau-caráter indica.” “O futebol não aprimora os caracteres do homem, mas os revela.” “Os cartolas pecam por ação, omissão ou comissão.” “Tu, em campo, parecias tantos e, no entanto, que encanto! Eras um só, Nilton Santos. ” “A bola é uma flor que nasce nos pés de Zico com cheiro de gol.” “É voando que o homem descobre o tamanho de Deus.”
Lá do Acre
Em 1944, Armando pegou um voo em Rio Branco. Pousou no Rio. Queria ser aviador. É dele este anúncio: “Troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas”. Voou muito, mas não foi piloto. Nem esqueceu a terra natal. Ele nasceu no Acre. É acriano. Assim, com i.
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