“As árvores querem ficar paradas, mas o vento não deixa.” A sabedoria chinesa ilustra processo por que a humanidade passa desde que o mundo é mundo. Mudanças ocorrem independentemente da nossa vontade. Com elas, novos paradigmas se impõem. Quem os ignora – por conveniência ou ignorância – olha pelo retrovisor. Firma pacto com o atraso. Sintonizar-se com o contemporâneo implica fazer a leitura correta do tempo.
Nestes tempos de conectividade instantânea, transformações saltam aos olhos. Continuamos conjugando os mesmos verbos, mas o jeito de pô-los em prática tomou novos rumos. A distância ganha espaço e deixa o contato direto pra trás. Compra-se, vende-se, paga-se, fotografa-se, estuda-se, trabalha-se — cada vez com menos intermediários. O celular põe as demandas e as respostas na palma da mão. O computador, ao alcance de um clique.
Resultado: a habilidade de comunicação sobressaiu. Nunca ficou tão clara a regência dos verbos escrever e falar. Ambos são transitivos. Escreve-se e fala-se para alguém. Queremos que o leitor e o ouvinte entendam e apreciem a mensagem. O desafio não reside no que dizer. Mas no como dizer. Daí a importância do conhecimento do código linguístico. A língua é um conjunto de possibilidades.
Mais flexível que cintura de político mineiro, aprende a lição da água. Adapta-se. Posto no copo, o líquido se ajusta-se à forma do recipiente. Na garrafa, ocupa sem resistência reentrâncias e saliências. Jogado no chão, espalha-se na superfície como se fizesse parte dela. O mesmo princípio orienta a expressão. A receita de sobremesa para a cozinheira de poucas letras difere da redigida para publicação na Playboy. A língua do horóscopo não é a mesma da reportagem, que não é a mesma do editorial, que não é a mesma da ocorrência policial, que não é a mesma do internetês, que não é a mesma da carta de amor.
Mais sem caráter que Macunaíma, a língua dança conforme a música. Que música? Ora o tempo dita as regras. Um texto do século 19 fica fora de moda no século 21. Ora o meio. Correspondência encaminhada por e-mail não se confunde com a embarcada em avião, navio ou ônibus. Às vezes, o emissor. Cada um tem seu jeito de dizer. “O estilo é o homem”, escreveu o pensador francês nos idos de 1750.
O receptor também fala. E alto. A receita de sobremesa para a cozinheira de poucas letras difere da redigida para publicação na revista Veja. A língua do horóscopo não é a mesma da reportagem, que não é a mesma do editorial, que não é a mesma da ocorrência policial, que não é a mesma do internetês, que não é a mesma da carta de amor. Quem fala ou escreve é o maestro. Ele rege os elementos da comunicação. Quanto mais sintonizado com seu tempo, seu receptor, seu meio e sua mensagem, melhor música tocará.
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