Pais: entendam o que as escolas podem exigir na renovação da matrícula 

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Por Amanda Ferreira 

O fim do ano se aproxima e, com ele, chega o período de planejamento dos pais para o novo ciclo escolar. As instituições privadas de ensino aproveitam para reajustar a mensalidade, renovar as matrículas e formular as listas de material. Contratar os serviços de uma escola pode parecer algo simples, mas merece bastante atenção. É tarefa dos responsáveis analisar o contrato com cautela e solicitar revisão no caso de cláusula ou valor abusivos. Isso evita surpresas desagradáveis.

A dentista Mariana Zerlotin, 35 anos, e o gerente comercial Otávio Soares, 41, são pais da pequena Carolina, 4. Para o casal, todo cuidado é pouco quando o assunto é a educação da filha. “É o terceiro ano da Carol na escola e nunca tivemos problemas para contratar os serviços da instituição. Faço questão de analisar bem a matrícula e o reajuste. Os pais dos colegas também são bem antenados e, sempre que notamos algum problema, falamos uns com os outros”, conta a mãe. Segundo Mariana, o colégio de Carolina costuma dar descontos para renovações de matrícula feitas antes do início do ano letivo.

Para a coordenadora institucional da  Proteste Associação de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci, o casal está no caminho certo. Ela afirma ser essencial analisar o que é oferecido na hora da matrícula em termos de prestação de serviço, além de conferir o valor do reajuste. “As instituições devem ter o contrato fixado para que os pais consigam analisá-lo com antecedência, poupando problemas na hora da matrícula”, recomenda. O documento deve apresentar o valor da anuidade, o número de vagas por sala, os horários de aulas, os períodos, o método de avaliação e o sistema de reposição de provas. Se a escola fizer alguma exigência que desrespeite o Código de Defesa do Consumidor, Maria Inês orienta que os responsáveis tentem uma negociação ou denunciem.

David, 8, e Luisa, 4, são filhos da pedagoga Adriana Maia, 34. Por confiar nos serviços e na qualidade da escola deles, a mãe admite ser pouco atenta a cláusulas de contrato e nas mudanças nos valores. Mas, neste ano, o aumento na mensalidade chamou a atenção. “Os pais, em geral, acharam um pouco abusivo, mas conversamos com a direção e definimos um valor que seria adequado para todos nós”, conta. Adriana garantiu a renovação de matrícula dos filhos logo nos primeiros meses. Para ela, a qualidade da instituição está acima de qualquer valor.

Quem também começa a se preparar para essa época é o publicitário Josiel Braga, 25, pai da Luíza, 4. Ele estuda todas as possibilidades para não se estressar na hora de contratar o serviço da instituição escolhida. “É o primeiro ano dela na escola. Não sei como as coisas funcionam; por isso, me preocupo. Quero que tudo saia de acordo para os dois lados”, revela. O pai entrou em contato com algumas instituições e conversou com conhecidos. A intenção é garantir a matrícula até o fim do ano.

Dívidas

O presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa), Luis Cláudio Megiorin, explica que as principais reclamações nessa época estão relacionadas à 13ª taxa de mensalidade, além da falta de clareza dos contratos, das cobranças extras e da ausência de planilha de custos — essa última é regulamentada pela Lei da Mensalidade (Decreto nº 3.274/99). “Os pais estão mais atentos aos seus direitos, mas, em caso de qualquer problema, recomendo que procurem a direção da escola ou a associação”, diz Luis Cláudio.

Segundo a Proteste, as instituições de ensino também não podem, por exemplo, incluir no contrato a possibilidade de rescisão em caso de inadimplência ou prever a inclusão do nome do devedor em cadastros como Serasa e SPC. Mas não há proibição quanto a recusa da matrícula para o período letivo seguinte, caso haja débitos. O texto do contrato deve fixar o valor da multa por atraso, bem como descontos para membros da mesma família ou para pagamento antes da data de vencimento. A entidade alerta, ainda, que protelar o pagamento não pode gerar restrições nas atividades escolares.

Com relação a desistências de matrícula, o analista jurídico do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), Felipe Mendes, explica que o responsável financeiro não pode ser cobrado por um valor maior do que 10% do que resta ser pago. As escolas também são impedidas de exigir um fiador na hora da assinatura de contrato.

Fique atento

>> Leia abaixo os direitos e deveres na hora de contratar uma instituição de ensino:

>> Reajuste
Sobre o valor base a escola poderá acrescentar um valor de correção que deve ser proporcional à variação de custo com pessoal, custeio ou aprimoramento didático-pedagógico da escola. Valores referentes a reformas para ampliação do número de vagas em sala de aula para novos alunos não podem ser repassados aos consumidores.

>> Taxa de reserva de vaga e de matrícula
As escolas podem cobrar taxa de reserva de vaga, mas este valor tem que fazer parte da anuidade e ser descontado na primeira mensalidade ou no valor da matrícula. Ou seja, não pode ser um valor a mais do que as 12 parcelas mensais.

>> Tarifa de emissão de boleto bancário ou de carnê
Mesmo que conste no contrato, a prática é abusiva e ilegal.

>> Desistência e devolução do valor da matrícula
O aluno ou responsável tem direito à devolução integral do valor pago pela matrícula quando, antes do início das aulas, desistir de cursar. Porém, se a devolução da matrícula for solicitada após o início das aulas, não haverá devolução dos valores pagos, considerando que a instituição de ensino deixou de disponibilizar a vaga para outro aluno.

>> Aluno inadimplente
Ao final de cada período letivo (semestre ou ano) o estabelecimento de ensino pode desligar o aluno. Se, porém, já houve renegociação, ele não pode mais ser considerado inadimplente, e, portanto, a matrícula não pode ser negada. O aluno inadimplente não pode ser impedido de trancar a matrícula, de assistir aulas, fazer exames ou participar de qualquer atividade pedagógica e também não pode ter documentos retidos.

>> Contrato
O texto da proposta de contrato deve ser divulgado em local de fácil acesso, no mínimo 45 dias antes do final do prazo de matrícula. Devem ser divulgados também o valor da anuidade ou semestralidade e o número de vagas por sala.

>> Garantias mercantis
Os estabelecimentos de ensino não podem exigir garantias mercantis, tais como fiador, cheques pré-datados e notas promissórias para assinatura do contrato.

>> Rescisão contratual
O pai ou aluno deverá formalizar por escrito a desistência ou trancamento da matrícula junto à entidade de ensino, sob pena de ficar inadimplente.

>> Lista de material escolar
As escolas não podem exigir que o material escolar seja comprado no próprio estabelecimento , exceto se for apostila e produzido pela própria instituição de ensino. Há escolas que também oferecem opção de pagamento de uma taxa de material escolar para que a própria instituição efetue a compra. Essa condição pode ser oferecida, nunca imposta.

>> Uniforme
Apenas as escolas que possuem marca registrada podem estabelecer que a compra do uniforme seja feita na própria instituição ou em estabelecimentos por ela definidos. O modelo só pode ser alterado após cinco anos de adoção.

* Fonte: Procon/SP

Mensalidade escolar deve subir até 15% no Distrito Federal; pais fazem abaixo- assinado contra

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Da equipe do Correio 

A mensalidade das escolas particulares devem subir entre 10% e 15% em 2017. A Associação dos Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa) recebeu, pelo menos, 50 reclamações por conta de aumentos em 10 colégios diferentes. O aumento previsto está bem acima dos 7,3% estimados, pelo Banco Central (BC) para a inflação deste ano.

No ano passado, quando os reajustes chegaram a 14%, a Secretaria de Educação, registrou um aumento de 50% no número de alunos que migraram de escolas privadas para públicas no DF, cerca de 12 mil estudantes.

Com o orçamento apertado devido à crise econômica dos últimos anos, pais de alunos têm adotado a prática do abaixo-assinado para tentar demover as instituições de ensino dos aumentos acima da inflação. No colégio onde estudam os dois filhos da servidora pública Riva Tauin, 50 anos, no Plano Piloto, o documentou já reuniu 800 assinaturas. Segundo ela, nos dois últimos anos, a correção foi de 10% e a previsão para 2017 é de que fique em torno de 10%. “Nosso salário não aumenta assim. A escola já não é barata”, reclamou Riva.

A servidora, que já pediu desconto, por ter dois filhos na escola e não tem condições de arcar com esses reajustes, lembra que o país passa por um momento de crise e que as instituições de ensino precisam segurar essas correções “até para manter os alunos”, diz. Riva disse que, caso não consiga uma redução, vai tirar os filhos do colégio. “O que é péssimo. Meus filhos estão há mais de seis anos no mesmo colégio. Têm vários amigos e já estão acostumados com a metodologia”, lamentou.

Reajustes

Álvaro Domingos, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particulares (Sinepe), disse que cada escola é responsável por fazer o planejamento orçamentário para o próximo ano. “É um trabalho muito difícil, porque o gestor tem que prever como vai ser a economia do ano seguinte. Para 2017, queríamos uma inflação de até 7%, mas ela pode chegar a 9%. Então é algo extremamente trabalhoso”, afirmou.

É dever de cada escola elaborar uma planilha orçamentária que inclua inflação, gastos com pessoal e melhorias. Domingos disse que, todo ano, o Sinepe promove um curso nas escolas para falar sobre a análise de mercado, demanda da cidade, aspectos jurídicos e a confecção da planilha obrigatória.

Segundo Riva, na escola dos filhos, a justificativa para os aumentos de 10% desde 2015 era que a correção era necessária devido ao reajuste dos professores. Rodrigo de Paula, diretor jurídico do Sindicato dos Professores em Estabelecimentos de Ensino do DF (Sinproep), no entanto, afirmou que, enquanto, no ano passado o índice médio de reajuste de mensalidades atingiu 13%, a alta no salário dos professores ficou em 11%. “E isso, porque entramos na Justiça”, disse. “As escolas cobram o dobro da inflação para os pais e oferecem só o índice de inflação para os professores. Nunca é repassado na mesma proporção”, contestou.

Domingos negou o fato e disse que os colégios nunca corrigiram as parcelas dobrando a inflação. “Pode acontecer de alguma escola ter feito isso, mas não condiz com a verdade, pois, no ano passado, por exemplo, receberam o INPC e mais 2% de ganho real”, retrucou.

Além do reajuste nas mensalidades, os pais também arcam com a diferença no valor cobrado entre o ensino infantil e o fundamental. A designer Patrícia Chaves, 32 anos, se assustou quando recebeu o valor da mensalidade do filho de 5 anos. Neste ano, pagou R$ 1.477 e, no ano que vem, teria que desembolsar R$ 1.880, um aumento de 27%. “Para mim, fica totalmente inviável que ele permaneça na escola”, desabafou.

Patrícia contou que o valor desagradou a um grupo de mães que está se movimentando para procurar uma escola mais barata. “Como é um número grande de crianças, estamos tentando conseguir um bom desconto em outra instituição”, relatou.