Um suposto esquema criminoso de pirâmide financeira envolvendo combustíveis está na mira da Agência Nacional do Petróleo (ANP), do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. O alvo é a empresa Fuel Age, que vende cotas de distribuição de combustíveis e promete lucro de até 200% para os empreendedores que aderirem à estrutura. Quanto mais interessados o colaborador conseguir trazer para a empresa, mais significativos são os ganhos. Segundo consta na propaganda institucional no canal YouTube, a Fuel Age tem sede em Goiânia e operações espalhadas por todo Brasil, em estados do Norte e Nordeste e também no Distrito Federal. No site, a empresa diz ter a Ipiranga como parceira. Porém, a rede nega. A ANP informou que a empresa não tem licença para funcionar e qualquer operação com petróleo no país precisa passar pela supervisão do órgão. Dessa forma, a atividade da Fuel Age está ilegal.
A atuação da empresa no mercado é recente. Os vídeos e textos começaram a ser postados em novembro de 2015. Em Brasília, o lançamento oficial ocorreu em 27 de fevereiro, com a presença de muitos convidados, conforme é possível verificar no vídeo postado no YouTube em 29 do mesmo mês. Por ser uma investigação recente, os órgãos responsáveis ainda trabalham no caso, por isso, não há informações sobre quantidade de pessoas envolvidas no esquema nem a cifra de um possível prejuízo.
Segundo informações do MPF-DF, o órgão recebeu uma manifestação anônima sobre a suposta pirâmide em 6 de março. No dia 8, devido ao caráter criminal, a procuradoria enviou um ofício para a PF com o seguinte teor: “Solicita instauração de inquérito policial para apurar eventual prática por parte da empresa Fuel Age de pirâmide financeira, disfarçada de marketing multinível. Em tese, isso pode constituir crime previsto nos artigos 5,6 e 7 da lei nº 7.492/86”. A lei citada é a de Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional. Além de pedir à PF apuração na parte criminal, o MPF-DF também enviou um ofício para que as divisões de ordem econômica e defesa do consumidor instaurem um inquérito civil. A PF informou que recebeu o despacho e tem 30 dias para responder a solicitação do Ministério Público.
Distribuidora
Um vídeo de apresentação da Fuel Age na internet explica que os ganhos podem chegar a 200% por causa da lucratividade do mercado de combustíveis. A empresa seria uma espécie de distribuidora, na qual o colaborador compraria barris de petróleo e a Fuel Age revenderia. Porém, não existe nenhum contato físico entre o associado e a empresa. O escritório é virtual. Uma outra sequência com explicações foi tirado do ar pelo YouTube com a seguinte mensagem: “Este vídeo foi removido por violar a política do YouTube sobre spam, práticas enganosas e golpes”. Nos comentários das imagens, há reclamações. “Fuel Age não está pagando: 90% das pessoas até hoje não receberam o direito do combustível e 50% estão com a conta bloqueada”, diz uma delas.
O Correio simulou interesse pelo negócio e entrou em contato com um dos vários números expostos na internet. Durante a conversa, a pessoa explicou como funciona o negócio e reforçou a importância de trazer mais parceiros. “Se não quiser indicar ninguém, você ganha do mesmo jeito. Do mesmo jeito assim… Quanto mais gente você colocar, maior será o seu lucro, seu ganho, claro. Você tem até o 10º nível de pessoas para cadastrar e ganhar. Elas vão cadastrando outras pessoas e você só vai ganhando”, afirmou. Na página da empresa na internet, o contato é feito somente via mensagem. Não há indicação de telefone.
O dono da empresa seria Márcio Nascimento. Ele aparece em um vídeo da apresentação em Brasília falando com o público. Para não caracterizar como pirâmide, diz que se trata de marketing multinível. A prática é legal. Nesse caso, o revendedor é compensado não apenas pelo que vende, mas também em função do número de novos revendedores que atrai para a estrutura de vendas diretas. Grandes e respeitáveis empresas usam o método. No caso da pirâmide, ela é considerada crime porque o sistema é insustentável, os lucros prometidos são pagos com os aportes dos novos participantes, que pagam para aderir à estrutura – investimento inicial. A adesão de novos membros permite o desenvolvimento da pirâmide, até que a velocidade de sua expansão não seja suficiente para pagar todos os compromissos.
O Correio tentou contato com os responsáveis pela Fuel Age. Ninguém respondeu ao telefone da central de atendimento, assim como o e-mail enviado pela reportagem.
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