Comandatuba (BA) – De perfil prático e enxuto – atribuído à formação em engenharia e à carreira empresarial – Altino Cristofoletti Junior já imprimiu sua marca na Associação Brasileira de Franchising (ABF), entidade que preside desde o início do ano. Durante a 17ª Convenção ABF do Franchising, principal evento do setor, Altino optou por uma abertura mais simples e por palestras com foco em resultado. Trouxe cases de sucessos no Brasil e no mundo, como, por exemplo, a explosão do e-commerce chinês. Na programação desenvolvida para as principais marcas do Brasil, palestras sobre tributação, comportamento do consumidor e plataformas digitais. Em entrevista ao Correio, Altino comenta sobre as perspectivas econômicas, a importância da articulação do segmento no Congresso e os impactos da Lava-Jato no empresariado brasileiro.
Altino é sócio-fundador da rede Casa do Construtor – Aluguel de Equipamentos, o empresário foi franqueado dos Correios. Eleito presidente da ABF para o Biênio 2017-2018, Cristofoletti é também membro do Conselho de Associados da entidade. O executivo foi, ainda, vice-presidente por dois mandatos e presidente da Comissão de Ética, além de ter ocupado outras posições na ABF, entidade na qual milita.
O setor de franquias vinha crescendo a uma média de dois dígitos até 2014. Desde então, o segmento continuou em ascensão, mas com o pé no freio. O senhor acredita que deve chegar um momento que a curva de crescimento pode voltar a marcar dois dígitos?
Na medida que a economia vai ficando mais estruturada, eu acredito muito no crescimento de dois dígitos. Talvez não acima de 20%, mas isso a gente vai trabalhando. Hoje a gente vive uma economia de profundas mudanças. O franchising brasileiro é exemplo pro mundo inteiro. Todo mundo vem aqui estudar o franchising brasileiro porque tivemos redes que conseguiram se estruturar em um ambiente muito adverso: as redes cresceram, se estruturaram, franquearam e isso, com certeza, vai fazer com que o crescimento seja sustentável. Mais do que crescer a dois dígitos, o importante é um crescimento sustentável.
Em 2018, vocês estão prevendo que o número de redes franqueadas se estabilize. O senhor acha que deve voltar a crescer ou vai manter esse padrão?
Quando a gente fala que estabilizou, não significa que não vão nascer novas marcas. Umas nascem, outras morrem. Nós acreditamos que em 2018 vai haver um índice zero de crescimento. Depois vai ter um crescimento moderado porque o sistema estava estruturado.
O senhor acredita em um descolamento da economia do cenário político. Entretanto, o senhor acha que na eleição de 2018 tem o risco de entrar algum presidente que retire reformas e faça mudanças que não são atrativas para o setor?
A gente acredita que qualquer pessoa que entrar lá tem que ter preocupação com a economia.
Nós, o franchising, a ABF, cada vez mais, temos tido uma atuação muito focada no que a gente chama de advocacy – ter uma relação próxima dos três governos – federal, estadual e municipal. E nos três níveis – Executivo, Legislativo e Judiciário. A gente tem tido uma presença muito grande porque a gente sabe que o ambiente legislativo pode, de um dia para o outro, quebrar o setor todo.
Então, a ABF tem tido uma atuação muito intensa para validar leis que consigam trazer o desenvolvimento para o setor de franchising e é lógico, trabalhar no sentido que leis que não estejam nessa direção, não sejam aprovadas. Cada vez mais a gente tem consciência que a entidade tem que ter esse papel do advocacy.
Das pautas que estão no Congresso, o que para o franchising é mais interessante que se aprove, que existe uma urgência para o segmento?
Pautas que dizem respeito ao Simples, por exemplo, são importantes porque a maior parte do franchising do mundo inteiro se estabelece em pequenos negócios. Dentro do Simples o que a gente trabalha é em uma abertura maior do valor total possível (hoje é R$ 3,5 milhões brutos anuais). Mais do que elevar esse valor é que não haja uma pressão tão grande. Às vezes, por um valorzinho maior você tem alíquota de imposto maior que inviabiliza o negócio. Outra coisa importante: os empreendedores de franchising estão abrindo uma segunda, terceira unidade. Tem que haver dentro dessa questão do sistema tributário, desse enquadramento do Simples, a preocupação de ter a possibilidade de ter mais unidades, outros CNPJs.
O franqueador precisa abrir vários CNPJs para continuar no Simples…
Isso. Preocupações que envolvam questões trabalhistas também são importantes para o setor. Vocês estão vendo que o mundo está mudando. Nós não podemos ter uma legislação trabalhista engessada porque shopping trabalha em vários horários. Você tem negócios que impactam, por isso que a gente defendeu a jornada flexível de trabalho, isso foi uma luta que a gente teve.
A Reforma da Previdência parou de andar no Congresso. O que setor pensa a respeito?
A Previdência é interessante em um sistema mais estrutural porque a gente sabe que o governo tem que ser menor, o governo, cada vez mais tem que não interferir na iniciativa privada. A reforma da Previdência é importante porque ela está tirando dinheiro de outros locais que o governo poderia investir como saúde, educação, segurança, infraestrutura… Que tudo isso movimenta a economia.
A Lava-Jato abalou a confiança no empresariado brasileiro? Isso de alguma forma chegou no setor de franquias?
A Lava-Jato não abalou a confiança. Foi um processo importante para nós brasileiros. Seja nessa relação empresa-governo, governo-governo, empresas públicas-governo… enfim, trouxe um olhar de conduta ética que é extremamente necessário. Hoje, por exemplo, a ABF investe muito em governança corporativa.
A gente entende que para um negócio ser bom, ser sustentável, ele tem que ser totalmente legal e o franchising tem muita pegada nessa questão da legalidade dos negócios. Isso reflete na entidade. O franchising é forte porque tem uma entidade forte que se preocupa com isso. A gente tem auditoria externa, tem uma governança corporativa em que se pensa na entidade, no franchising de forma estratégica. Não é porque o Altino entrou esquece tudo, tem uma continuidade de outras gestões. Isso a gente entende que tem que refletir nas empresas e tem que refletir no governo. Nesse sentido, a Lava-Jato foi muito boa, trouxe uma reflexão pra gente. A gente sempre cresce nas reflexões.
Os programas de demissão voluntária começam a aparecer nas empresas públicas e privadas. E o franchising aparece como uma opção de negócio para esse grupo que tem o dinheiro da indenização. Como o franchising pode ser uma opção de oportunidade e não só de necessidade da pessoa obter renda?
Como o sistema é uma coisa formatada, você tem já um negócio em que a probabilidade de morrer é menor. Tudo tem risco. No franchising também tem risco. Além dos PDVs, tem a questão que as pessoas estão vivendo muito mais. Eu estou com 57 anos, meu pai trabalhou até um pouco mais, mas aí já não tinha a expectativa de vida. O aumento da expectativa de vida, as pessoas trabalhando mais tempo, essa cultura do empreendedorismo que o Brasil está trazendo muito. Antes não se via falar de empreendedorismo, hoje todas as escolas estão falando em empreendedorismo. Isso está instigando, os próprios filhos estão instigando os pais a empreenderem. Então, na hora que têm uma demissão voluntária, as pessoas têm oportunidade de sair com o valor que agregaram do seu trabalho e o franchising, naturalmente é uma boa perspectiva porque existe um solo mais seguro.
*A repórter viajou a convite da ABF