O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) questionará a Rede Cascol sobre o preço de compra da gasolina na distribuidora. O valor apresentado pela empresa ao órgão é superior ao dos concorrentes, na comparação feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Isso pode repercutir na cifra encontrada nas bombas. Enquanto alguns postos pagam R$ 3,24 ou R$ 3,29 por litro comprado da revendedora, a Cascol informou ao MPDFT que gasta R$ 3,36. A Promotoria do Consumidor (Prodecon) quer entender por que a companhia desembolsa um preço mais alto do que o praticado no mercado e se esse valor pode atrapalhar o cumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 22 de janeiro entre as partes.
O acordo assinado entre a Cascol e o MPDFT limita o lucro bruto da gasolina em até 15,87% durante seis meses. A preocupação da promotoria é se a empresa está informando um valor de compra diferente do que ela paga para conseguir um lucro maior do estabelecido no TAC. “O MP está de olho na tabela de preços, fiscalizando e acompanhando o bom cumprimento do TAC assinado”, afirmou o promotor Paulo Binicheski, responsável pelo termo de ajustamento.
O fato de a Cascol ter caminhão para frete próprio do terminal até os postos de combustíveis e concentrar com mais de 30% do mercado brasiliense — o que daria fôlego de negociação de preço com a distribuidora — elevam a dúvida sobre o valor de compra apresentado ao MPDFT. “Por que as revendedoras de combustível cobrariam mais caro da Cascol e venderiam mais barato para redes menores? Essa pergunta precisa ser respondida”, questiona Binicheski.
Em nota, a Cascol informou que não tem ingerência sobre o preço praticado pelas distribuidoras. “A Cascol Combustíveis informa que compra seus combustíveis exclusivamente das distribuidoras BR e Ipiranga com as melhores condições possíveis. Quanto a diferença nos preços de compra, a Cascol esclarece que o valor pago é o cobrado pela distribuidora.”
Controle
Com a assinatura do TAC, os preços da gasolina chegaram a cair R$ 0,08 nas bombas no início do mês, com a gasolina custando R$ 3,89. Porém, ontem, o Correio percorreu postos no Plano Piloto e em Santa Maria e encontrou valores entre R$ 3,88 e R$ 3,97. O taxista Júlio da Silva, 43 anos, considera abusivo os valores cobrados na capital. “É um absurdo o que se paga em Brasília. Para quem trabalha com o carro, é ainda mais complicado. Eu ando por diversas regiões e sempre busco o menor preço, mas não adianta, a diferença nem vale tanto a pena”, reclama. Na opinião dele, mesmo com a revelação da prática de cartel em Brasília, os empresários ainda controlam os preços das bombas. “A grande maioria pratica o mesmo valor. Está muito caro, tem de baixar. Estão querendo continuar lucrando em cima do consumidor”, complementa.
Para saber mais:
Há exatos três meses, a Polícia Federal, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e o Ministério Público do DF deflagraram a Operação Dubai, contra o cartel de combustíveis que agia no Distrito Federal e no Entorno. Segundo as investigações, a gasolina era sobretaxada em 20% para os consumidores. Além disso, o preço do álcool era inflado para evitar a penetração no mercado brasiliense.