A mais drástica crise hídrica vivida pelo Distrito Federal traz o alerta sobre a urgência de pensar políticas a longo prazo para o abastecimento. Estratégia que vem sendo pouco utilizada na capital do país. O principal reservatório da cidade, a Barragem do Descoberto, tem 42 anos, quando Brasília tinha pouco mais de 500 mil habitantes. Atualmente são quase 3 milhões. E a última obra de médio porte para captação de água foi inaugurada em 2000, há 16 anos, no Pipiripau, em Planaltina.
Nas últimas décadas, pequenas construções de barragens e de poços foram feitas para socorrer novos conjuntos habitacionais como o Paranoá Parque e reforçar o abastecimento em locais com explosão demográfica como a região de Sobradinho I e II, Fercal e o Bairro Taquari. Projetos de maior fôlego propostos pela Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), como a captação no Lago Paranoá, sequer tem o recurso disponível, e Corumbá IV caminha a passos lentos desde o seu anúncio em 2003. Essas duas obras somadas a do Bananal podem aumentar em 57,8% a produção de água potável. Hoje a capacidade máxima diária é de 9,5 mil litros por segundo. Os três sistemas quando implantados em sua totalidade podem acrescentar mais 5,5 mil litros à vazão por dia. Esse incremento deve garantir a segurança hídrica até 2050, prevê a Caesb.
O que preocupa os especialistas é que o aumento do consumo local cresce desproporcional à agilidade do governo em buscar alternativas para o serviço de água potável. As soluções propostas esbarram na morosidade e na falta de recursos para a execução. Enquanto isso, diante da estiagem, a saída de emergência para frear a baixa nos reservatórios foi instituir a taxa extra na fatura de água. A solução pode ter efeito temporário, mas não resolve o cerne da questão.
Para o doutor em química analística e ambiental da Universidade de Brasília Geraldo Resende Boaventura, a tarifa está prevista em lei, por isso não pode ser avaliada como negativa ou positiva. “Entretanto, o que deve ser discutido é a forma que poderia ter sido implantada uma política de longo prazo, uma orientação de menor consumo ou a criação de uma alternativa, como o Lago Paranoá ou o Corumbá”.
“Não teve nenhum investimento significativo por parte da empresa em 15 anos. Foi um poço aqui outro acolá remediando casos específicos. Isso não resolve. O fato alarmante é que a demanda está atingindo a oferta”, analisa Henrique Leite Chaves, professor de manejo de bacias hidrográficas da UnB. Atualmente, a Caesb trabalha no limite da produção. São 9,5 mil litros por segundo por dia para um consumo de 9,2 mil litros por segundo.
A própria Caesb admite que há deficit de planejamento e ressalta que pretende correr atrás do prejuízo dos anos sem o investimento necessário. “A demanda aumentou e não foi acompanhada. A companhia precisa pensar à frente e tentar acompanhar o crescimento de Brasília. É bom lembrar que serviços de saneamento demoram um prazo entre a concepção e a maturação do projeto”, explica Maurício Luduvice, presidente da Caesb.
Escolhas
Na opinião de especialistas, um erro de gestão foi apostar em poucas fontes de captação. O primeiro reservatório foi o de Santa Maria, em seguida, construiu-se a Barragem do Descoberto, na década de 1970. Desde então, os dois são responsáveis majoritários pelo abastecimento. O mesmo problema ocorreu em São Paulo e da extrema dependência do Sistema Cantareira na crise hídrica de 2014-2015.
Na tentativa de diversificar a produção de água potável, a Caesb propõe novos locais de captação, entretanto, as obras estão atrasadas, consomem mais dinheiro que o previsto e nem todas têm os recursos disponíveis. Corumbá, por exemplo, vai atrasar novamente. Embora a obra esteja em execução, o prazo de entrega foi dilatado, assim como os gastos. Em fevereiro de 2015, a Caesb informou ao Correio que parte da estrutura seria entregue em 2017. Entretanto, de lá para cá, os recursos aumentaram em R$ 13 milhões e a entrega de parte da obra foi jogada para julho de 2018.
Na análise do professor da UnB, Henrique Chaves, Corumbá não é uma boa aposta. A começar pelos custos. Como o lago é distante, o obra é morosa e cara, exigindo muita estrutura de adutoras e gasto de energia elétrica para dar vazão ao líquido. Outra questão é o fato da obra ser interestadual, o que pode gerar problemas futuros, como ocorreu com o consórcio firmado entre Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e que acabou chegando no Supremo Tribunal Federal.
“Era possível que o DF resolvesse a questão hídrica dentro de seu próprio território, sem precisar de pegar água em outra unidade da federação”, afirma. Além disso, o objetivo do lago é para energia elétrica, não abastecimento. “Das duas turbinas prontas, apenas uma está em funcionamento por causa do baixo volume do reservatório. Isso porque ainda não começou o abastecimento”, complementa Henrique.
A captação no Lago Paranoá esbarra ainda na falta de recursos. Segundo Luduvice, como o Brasil passa por uma crise financeira, há mais dificuldades para se conseguir empréstimos. Henrique Chaves ressalta ainda a questão da pureza da água pela existência de duas estações de tratamento (ETE) no lago. “A água do DF sempre foi de altíssimo nível. Com a existência das ETEs há um pequeno risco de alguns compostos químicos residuais permanecerem, como o hormônio estrogênio”, alerta.
Para Henrique, uma saída seria a construção de uma represa na região do São Bartolomeu, em São Sebastião. Entretanto, Luduvice adianta que estudos de viabilidade foram realizados e que a captação no Lago Paranoá mostrou-se mais vantajosa.
PRINCIPAIS PROJETOS PARA AUMENTAR A CAPTAÇÃO NO DF:
Lago Paranoá
Aumento de 22,1% na oferta diária de água
Previsão de entrega: novembro de 2019
Valor previsto: R$ 477 milhões
Status: Projeto básico concluído / recursos não garantidos / licença prévia ambiental
Bananal
Aumento de 5,2% na oferta diária de água
Previsão de entrega: novembro de 2017
Valor: R$ 20 milhões
Status: Obra em execução Projeto básico concluído / recursos em contratação / licença ambiental de instalação / não há previsão para licitação das obras
14 meses (novembro de 2017)
Corumbá
Aumento de 29,4% na oferta diária de água
Previsão de entrega: julho de 2018
Valor: R$ 275 milhões (por parte da Caesb, há uma parcela da Saneago)
Status: Execução da obra
Para saber mais: Distribuição
Atualmente, os cinco principais produtores de água do DF são o sistema do Descoberto, localizado na divisa do DF com Águas Lindas (GO); o do Torto e Santa Maria, que capta nos lagos protegidos pelo Parque Nacional; o do Planaltina e Sobradinho, no Rio Pipiripau; o de Brazlândia, com duas captações nos córregos Barrocão e Capão da Onça e um sistema de poços no Incra 8; e o de São Sebastião, abastecido exclusivamente por poços.
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