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NO COUNTRIES, NO RELIGIONS

Publicado em Espiritualidade, Filosofia, Psicologia, Sem categoria

Há pouco mais de um mês, o grupo islâmico Hamas estarreceu o mundo com um terrível ataque a Israel. Ninguém em sã consciência pode não se horrorizar com o que houve. Mas quem acompanha este blog sabe que estou sempre falando na importância da visão panorâmica sobre qualquer questão. Porque só quando lançamos um olhar amplo sobre um determinado assunto é que podemos entender o que de fato está acontecendo. Esse ataque foi apenas um episódio entre muitos envolvendo palestinos e israelenses nos últimos 70 anos.

 

E embora os ataques de Israel contra a Palestina não sejam noticiados da forma impactante como vem sendo o realizado pelo Hamas no último 7 de outubro, quem tem uma visão do conjunto da obra dos dois lados sabe que Israel vem tentando exterminar o povo palestino de uma maneira extremamente cruel, destruindo e matando civis, inclusive mulheres, crianças e idosos, em Gaza, no Líbano e na Cisjordânia há décadas. Em outras palavras, não se trata apenas de fundamentalistas muçulmanos ensandecidos atacando judeus, como muitos querem que se acredite. A situação é extremamente complexa. E eu lamento muito pelos inocentes assassinados nos dois lados.

 

Não sou nem de longe especialista nesse assunto. Mas a internet está abarrotada de entrevistas e debates entre experts, gente que entende de Palestina, de Israel e por aí vai. São cientistas políticos, ativistas políticos, profissionais com mestrado, doutorado, pós-doutorado, que se dedicam a tentar entender essa questão e outras que envolvem o Oriente Médio. Mas há algo que ainda não vi sendo discutido por nenhum desses. Será que essa é mais uma guerra santa?

 

Eu não acredito que exista guerra santa, ou seja, guerra causada por diferenças entre religiões. Pra mim, todas as guerras têm motivações políticas, geoeconômicas, estratégicas. Todas têm a ver com a necessidade das pessoas em deter poder sobre territórios, riquezas e outras pessoas para satisfazer seus mesquinhos, seus escusos, seus nada espirituais anseios. Existem guerras de todos os tipos, mas nenhuma é mais devastadora do que as denominadas santas, porque elas são como todas as demais, só que disfarçadas de conflitos por motivos superiores.

 

Numa guerra considerada santa pelos incautos, fiéis de uma determinada religião, que se consideram agentes do Bem tentam eliminar fiéis que, por professarem outra fé, são considerados infiéis, ou seja, agentes do Mal. Como sempre acontece, todos perdem e sofrem, vencidos e vencedores. Só que, entre os derrotados, não há apenas pessoas. O Deus delas também sai “vencido”, o que escapa à capacidade de superação de quem se envolve nesse tipo de empreitada, transformando os “vitoriosos” em eternos alvos de revanche, num círculo vicioso que muitos acreditam virtuoso.

 

Mas isso ainda não é o pior – esses “soldados” são manipulados, insuflados e enviados para matar ou morrer por homens como os poderosos da indústria bélica e países que se recusam a abrir mão das práticas imperialistas, que não estão nem aí para religião, que se mantêm distantes, acompanhando não apenas os conflitos propriamente ditos, mas todos os seus desdobramentos mundo afora, avaliando o que de melhor para eles pode ser extraído dessas tragédias.

 

Eu adoraria poder tirar o viés religioso dessa guerra entre Israel e Palestina, como de todas as outras consideradas santas, para que o mundo pudesse ver o que a sustenta de fato. Eu adoraria saber como ela seria se desaparecesse a crença de que a luta é em nome de Deus. Eu adoraria que judeus e muçulmanos conseguissem se ver tão somente como homens querendo a melhor fatia daquela região, mesmo que à custa de outros homens, de irmãos, e que, colocando a mão na consciência, entendessem que ninguém vai conseguir nada enquanto todos lutarem por tudo.

 

O Brasil nunca participou de “guerra santa” contra outros países. As nossas são internas, com o discurso religioso sendo usado despudoradamente inclusive por políticos que sabemos serem sociopatas envolvidos com milicianos, traficantes e toda sorte de criminoso, capazes de desviar recursos que seriam para salvar vidas, para investimento em educação, saneamento, moradia, merenda escolar. Esses usam o nome Deus para manipular, da maneira mais vil, a massa ainda incapaz de criticar o que lê, o que ouve, que simplesmente segue, como dito na música, uma vida de gado.

 

E, enquanto tudo isso acontece debaixo dos nossos narizes, vemos, por exemplo, cristãos de diferentes denominações digladiando por questões envolvendo a virgindade de Maria; se Madalena havia sido prostituta e se teve um caso e filhos com o Cristo. Deixam de lado a mensagem de amor de Jesus que, obviamente, ainda não conseguiram entender, abrindo caminho para quem disso se aproveita no melhor estilo daquele ministro do Meio Ambiente daquele presidente que não deve ser nomeado, que considerou a preocupação do povo e da imprensa com a pandemia como um excelente momento para “passar a boiada” sem questionamentos por parte da Justiça dos homens.

 

A exemplo do que acontece no Oriente Médio, temos aqui uma disputa entre algumas religiões sobre qual Deus é o verdadeiro, o mais poderoso, o que vai conseguir derrotar o inimigo, os infiéis, e conduzir à glória do Paraíso aqueles que a Ele são tementes, que O idolatram, que estão prontos a por Ele se sacrificarem e combaterem, lutando até a morte para que todos O reconheçam como o verdadeiro, o único.

 

Mas creio que chegará o dia em que os seres humanos entenderemos, não apenas intelectualmente, mas também em nossos corações, que Deus está acima de tudo isso. Ele não tem inimigos, não carece de ser temido, de ser idolatrado, dos nossos sacrifícios, de que lutemos contra nossos irmãos para glorificá-Lo. Ele não se aflige se não for aceito, não se enraivece porque jamais se contraria, não precisa sentir-Se respeitado e nem defendido por ninguém. Nós é que atribuímos a Ele essas angústias, porque ainda somos tão ignorantes que tentamos medi-Lo usando as nossas pobres e limitadas réguas. Por isso nos atrapalhamos, metemos os pés pelas mãos, fazemos tantas bobagens e cometemos crimes terríveis em nome d’Ele.

 

Nós é que precisamos acreditar em Deus porque, muitas vezes nos vemos em situações tão difíceis que, se n’Ele não tivermos fé verdadeira, não conseguimos nem abrir os olhos pela manhã. Somos nós que precisamos n’Ele acreditar. Somos nós que precisamos que Ele nunca deixe de acreditar em nós. As carências, as necessidades, são nossas, não d’Ele. Porque Deus, diferentemente do que tantos imaginam, não é um velhinho de túnica e longas barbas brancas que fica sentado num trono de ouro numa nuvem no Céu, vigiando e julgando nossas insanidades. E Ele não é propriedade, nem privilégio de nenhuma religião. Deus é a Inteligência Suprema, Causa Primária de todas as coisas. Ele não está, Ele é. 

 

E, quando John Lennon cantou “Imagine” e muitos disseram que ele era um sonhador, pra mim ficou claro que não se tratava de um sonho, mas de uma profecia. Mas, até que ela se cumpra, se conseguirmos um mundo onde, mesmo com diferentes países e religiões, as pessoas verdadeiramente se respeitem, já teremos dado talvez o mais importante de todos os passos a serem dados pela Humanidade. Até lá, que Deus nos livre e guarde de nós mesmos!

 

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19 thoughts on “NO COUNTRIES, NO RELIGIONS

  1. Texto de grande profundidade como sempre, fiquei impactada com as descrições a respeito de Deus que você realizou, e posso te dizer que Deus é presença, se ficarmos um tempinho em silêncio, um pouquinho alerta, sentimos Ele, as guerras feitas em nome de Deus estão descritas no primeiro texto biblíco, e até a Ressurreição de Jesus, guerras em nome de Deus eram justificadas, Jesus veio e deixou claro que não era essa terra motivo de Guerra, podendo Ele ser o Rei, Ele se entregou e disse que aguardava os d’Ele em outro lugar, porém nenhuma religião é mais importante que outra, respeitemos também quem não crê em Jesus como libertador e salvador do mundo, os praticantes da religião que o próprio Cristo era adepto “os judeus”, ainda estão aguardando o Messias, eles ainda acreditam na Terra Santa. Nós ficamos horrorizados com a guerra, com a fome e com as dores, mas o próprio Jesus disse que isso estaria previsto, e que Ele só voltará em glória quando todas as nações declarar paz e segurança, ou seja, acredito que nossa geração não presenciará isso. Nós gerações do século XX e XXI, ainda somos os mesmos, o pensamento dos extremistas religiosos ainda é o mesmo que o pensamento dos povos descritos em Gênesis, na Bíblia Sagrada, ops, Sagrada para quem crê!

  2. Janio Barbosa via WhatsApp: Gostei da sua analogia com os Bolsonaros e seus gados. O texto ficou divino. Parabéns!🫶👏🏻😘

  3. Claudia via WhatsApp: Boa tarde, Doutora. Neste exato momento, parei um vídeo no qual eu estava assistindo, e comecei a ler seu texto…o vídeo no qual eu me refiro, e justamente sobre religião…passei anos da minha congregando em uma certa denominação muita conhecida, e depois das muitas mentiras , lavagens cerebrais …fui estudar algumas religiões …porque no meio de tantas hipocrisias ,heresias e curandeirismos …o homem ainda não aprendeu amar o próximo…e,isso nunca vai acabar…infelizmente às pessoas não gostam de ouvir verdades…como todo vício, a religião é uma dependência , e talvez a pior de todas… hj, estou fora desse sistema estalionatario …confiante em um Deus justo e misericordioso.

  4. Virginia via WhatsApp: Que loucura é essa afirmação de que “Israel vem tentando exterminar o povo palestino de uma maneira extremamente cruel, destruindo e matando civis, inclusive mulheres, crianças e idosos, em Gaza, no Líbano e na Cisjordânia há décadas.” O nome disso é antissemistimo. Acho que para escrever num blog é preciso estar mais bem informado! Que vergonha, Maraci Santana!

  5. Você, como sempre, escreve de uma maneira que nos faz passear em suas palavras. Texto extremamente esclarecedor, didático.
    Além do português impecável e de uma inspiração divina! Parabéns!!

  6. Marcos Dangelo da Costa via WhatsApp: Oi, Maraci. Li o texto e achei sensacional! Sem “puxar a sardinha” para um lado e nem para o outro. Uma análise imparcial. Gostei especialmente da ideia que nós é que precisamos de Deus; não o contrário. Porque Deus é onipotente e onisciente. Afinal, sem Deus, nada podemos fazer.

  7. PE via WhatsApp: Seus textos, naturalmente, em algum momento, não estarão na expectativa do leitor, concordando com aquilo que ele pensa sobre determinado assunto. Contudo, vejo sempre com um olhar voltado para reflexão, pois avalio que ajuda na formulação do pensamento crítico. Esse tema sobre a guerra envolvendo Israel, os Hamas e Palestinos, precisa, como vc bem diz, “de um olhar panorâmico”. Entendo que não podemos descartar a interferência, talvez, de outros países no interesse dessa guerra. Vc em seu texto observa que as guerras tem em si a questão do PODER, no que concordo plenamente. Vejamos os EUA que têm interesses bélicos e de riquezas minerais existentes em outras nações. Inclusive, possui dezenas ou centenas de bases militares em países pobres e subdesenvolvidos. Infelizmente, no Brasil foi “concedida” a base de Alcântara, no Maranhão para os americanos. Por fim, sem entrar em outros detalhes sobre o seu texto, deixo aqui meu desagravo por classificarem vc como antissemita. Tenho a convicção que seus textos são sempre postados no intuito de contribuir para uma reflexão dos leitores sobre os temas. Parabéns!!!

  8. Fabio Carfero via Instagram: Vim por conta desse texto te dar os parabéns, escrito com muita sensibilidade e imparcialidade, adorei! Sucesso!

  9. Tem que ser bastante inteligente para ler o texto e não sair dando opiniões! O texto é para ser apreciado , entender o que importa , o que tem atrás de cada palavra , o que acontece ou que aconteceu em cada ataque o que tá frente dessa guerra e atrás dela. A religião divide aqui e divide lá.
    Esse é um debate para nós ,para que não tropeçamos nos mesmos erros.Por que demarcar sempre nossos territórios? Por que nosso deuses são mais milagrosos?
    Por que insistir no modo de vida que só nos destrói? O texto nos leva a sair do julgamento e dos debates e nos coloca na posição de Alerta para repensar que aqui poderia e pode ser um lugar melhor!!

  10. Willer Firmiano da Silva via WhatsApp: Como sempre seus textos são magníficos, pois vc consegue fazer uma síntese bem clara, objetiva e didática do problema. Sua analogia da guerra entre Israel e Hamas com a política brasileira que no meu ponto de vista é: uma guerra não declarada ao nosso povo. O uso do nome de Deus em vão, têm feito esses sociopatas crescerem entre os alienados dotados de pouco e muita educação que preferem defender ideais políticos sem fundamentos que só trazem sofrimento e dor a todos nós e inclusive p eles tb. Falta o verdadeiro Deus no coração dessas pessoas e muitas acham q por andarem com uma Bíblia de baixo do braço, são melhores que os outros q não seguem suas crenças religiosas.

  11. Hoeck Miranda via WhatsApp: Prezada Marací, tive a oportunidade de ler, hoje, em seu Blog o excelente artigo de sua autoria No Countries, No Religions. Cumprimento você pela abrangência de sua abordagem e, sobretudo pelo equilíbrio de sua análise. É muito difícil acessar, na imprensa nacional e internacional, uma análise equilibrada da situação atual que a humanidade atravessa. São 10 guerras ocorrendo na superfície da Terra, segundo alguns especialistas, e não destinei meu tempo para conta-las, pois basta uma, para nos chamar a atenção. A guerra é o símbolo máximo da ignorância de governos, dominados por grupos que substituem a força da razão, pela razão da força. Necessitamos urgente de uma Governança Global, com a participação de todos os povos, de forma democrática, independente de seu tamanho e de seu poderio econômico e militar. Infelizmente a ONU não cumpre mais esse papel, pois as decisões de sua Assembleia Geral são solenemente ignoradas pelos países com o poder de veto no Conselho de Segurança. Isto tornou a arena internacional um local onde impera a lei da selva, ou seja, a lei do mais forte. Tal realidade favorece apenas a grande indústria bélica mundial. A insegurança, gerada por essa situação insustentável, impede os grandes investimentos que beneficiariam todos os povos, pois eles estão artificialmente divididos, para que a guerra seja mantida em favor do comércio de armamentos em todo o mundo. Gostaria de concluir, oferecendo, para reflexão as seguintes palavras reveladas por Deus a Bahá´u´lláh, o Autor, do Arcabouço e dos Ensinamentos Centrais da Revelação Bahá´í: “O bem-estar da humanidade, sua paz e segurança são irrealizáveis, a não ser que, primeiro, se estabeleça firmemente a sua unidade. E essa unidade jamais será atingida, enquanto se deixar de atender aos conselhos que a Pena do Altíssimo revelou”. Parabéns, pelo seu excelente artigo, Maraci,, que me tocou pela qualidade e equilíbrio de sua análise, e pela beleza de seu estilo. Sucessos em sua missão! O meu nome é Hoeck Miranda. Sou radicado em Brasília e natural de São Paulo. Sou autor do livro em sua terceira edição, intitulado O Alcorão e a Unidade das Religiões. Parabéns pelos seus esforços em prol de um mundo mais esclarecido! Você escreve muito bem e seu estilo é muito forte e elegante!

  12. Cássia via WhatsApp: Sim, excelente, como sempre e com muitos insights. Nenhuma guerra é santa, nem as que travamos com nós mesmos…

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