LIMPANDO BEM A CASA (consulta de leitora)

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“Estou passando um momento de tristeza. Descobri que tenho câncer de intestino. Em seguida, perdi meu filho de 39 anos para a Covid. Fiz cirurgia e retirei o tumor. Fiz quimioterapia e agora aguardo ligar meu intestino. Uso bolsa de colostomia. Meu esposo mudou demais. Ajuda limpando a casa, às vezes faz comida. Mas está me tratando muito mal. Eu fico nervosa e ele revida com nomes horríveis. Estou muito triste e ele me ignora. Será que tem outra? Boa noite.”

Sinto muito por você estar passando por tudo isso. Descobrir uma doença grave e perder um filho é pesado demais. Pra complicar, você está lidando com o comportamento difícil do seu marido e começa a desconfiar que ele possa ter outra mulher, o que só aumenta sua dor. Não sei lhe dizer se isso é verdade ou não. Mas posso lhe dizer que, no momento, você deve deixar essa questão de lado e cuidar de uma doença que, se você não a tinha antes desse drama começar, agora muito provavelmente tem. Essa doença se chama depressão.

O diagnóstico e o tratamento da depressão costumam ser menosprezados pelos médicos que não são da área de saúde mental. Mas entendo que quem tem uma doença grave, seja ela qual for, precisa de acompanhamento psiquiátrico e psicoterápico. Sabe o porquê? Vamos imaginar que você vai fazer uma faxina na sua casa. Os móveis e o piso estão muito sujos e tem lixo espalhado por todo lado. O resultado do seu trabalho jamais será bom se você limpar tudo, mas não recolher e jogar o lixo fora. A casa ficará um pouco melhor, mas continuará suja.

Penso que é mais ou menos o que acontece quando tratamos um câncer, por exemplo. Passamos por cirurgia, radioterapia, quimioterapia, mas não temos o devido acompanhamento de profissionais da área psi. Saber que temos algo ruim dentro de nós, que exigirá um tratamento que pode ser doloroso e nem chegar a nos curar, mexe com a cabeça de qualquer um. E tudo o que pensarmos de ruim a respeito se desdobrará em emoções que só complicarão o nosso quadro, diminuindo nossas chances de restabelecimento. Em outras palavras, não tratar a depressão é como limpar os móveis e o piso, mas não jogar fora o lixo que está espalhado.

A depressão destrói vidas. Ela costuma trazer, entre muitos outros prejuízos, tristeza, pessimismo, desesperança, irritabilidade, impaciência, necessidade de isolamento, incapacidade de enxergar o mundo e raciocinar com clareza, o que provoca em nós medos irreais e nos faz ver chifre em cabeça de cavalo, como pode estar acontecendo com você com relação à fidelidade do seu marido.

É uma doença grave que não vai embora naturalmente, que, sem tratamento médico e psicológico, só se agrava e impacta todos que estão a nossa volta, inclusive pessoas que, como o seu marido, têm problemas, traumas, dores e podem também estar sofrendo de depressão. Assim, nós afetamos essas pessoas e elas nos afetam, numa troca doentia terrível.

Ninguém passa por tanta coisa impunemente. Você e seu marido precisam tomar uma providência importantíssima pra romper esse círculo vicioso que se complica mais e mais com o passar do tempo. Fale com ele sobre buscar ajuda para os dois. E, se ele não topar se tratar, não se aborreça e não esmoreça, busque ajuda para você. Conforme você for melhorando, tudo e todos a sua volta melhorarão também.

Converse com seu oncologista sobre isso. Faça a sua parte. Quando fazemos o que está ao nosso alcance, o Universo se encarrega de tudo o mais. Lembre que Deus dá o frio conforme o cobertor. Confie Nele!

Sugiro a leitura de alguns textos sobre depressão e emoções. Basta clicar nos títulos: O GÊNIO E A DOR, TAMBÉM MATERIAIS, TAMBÉM ESPIRITUAIS, MONTANHA-RUSSA DE EMOÇÕES.

Você pode comentar este texto logo depois dos anúncios, mesmo que você não seja assinante do jornal. Ou pode mandar um comentário para mim por WhatsApp no (61)991889002, para que eu o publique. Você também pode me enviar um texto que considerou interessante e que combina com este blog.

MARACI SANT'ANA

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MARACI SANT'ANA

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