GANHO SECUNDÁRIO (consulta de leitora)

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“Bom dia! Tenho 26 anos, estou casada a 5 anos, namorei por 7 anos, comecei o relacionamento com 14. Estou em um relacionamento abusivo e desde sempre mas so agora eu vejo o que todos falavam. A 5 anos atrás a gente se separou por 3 meses e eu tive outro relacionamento mas eu quando via meu marido “ex” com as outras eu me desesperava e fazia de tudo pra voltar até que consegui o que eu queria mas agora ao passar dos anos volto pro meu ex que namorei por 3 meses, que gostava da minha família frequentava a casa dos meus pais e eu tinha a liberdade que hj não tenho. Encontramos várias vzs sem meu marido saber praticamente dois anos. Tendo contado, ele quer que eu me decida com quem quero ficar. Ou ele ou meu marido. Mesmo sabendo que meu marido é abusivo eu não consigo sair de casa e eu quero voltar com o meu ex. Eu não sei o que fazer. Ele me deu um prazo. Se passar do prazo, ele não quer mais o que faço?”

Confesso que fiquei confusa com o final da sua mensagem, sem saber qual dos dois lhe deu o ultimato. Mas isso é o de menos. Você disse que o seu marido é abusivo, sem explicar que tipo de abusos ele cometia ou comete. E estar vivendo um romance fora do casamento é colocar sua vida em risco. Muitas mulheres morrem todos os dias por bem menos.

Segundo o G1, só no DF, de janeiro a final de junho deste ano, 17 mulheres foram vítimas de feminicídio. Algumas por pedirem a separação, outras por desejarem voltar a estudar ou trabalhar, outras por terem queimado o feijão. Um homem abusivo não precisa de um motivo excepcional. Aliás, não precisa nem de um motivo pra fazer uma loucura.

Só que muitas mulheres se arriscam, infelizmente. Sei que é difícil para as pessoas entenderem isso e algumas até se revoltam contra as vítimas, mas elas não deixam de se proteger por acaso. Existem diferentes causas para insistirem em um relacionamento abusivo, não conseguirem colocar um ponto final no que pode lhes custar a vida. Não há como eu lhe dizer qual é o seu caso, mas vou explicar o que acontece com mais frequência, certo?

De cara, posso citar o medo de piorar a situação, de despertar a ira, a agressividade do parceiro; as dificuldades financeiras e patrimoniais que podem colocar em risco a sobrevivência da própria mulher e dos filhos; a pressão da família, que pode adorar o parceiro, já que muitos são ótimos quando não estão entre quatro paredes; os medos irreais, como o de ser considerada, pela sociedade, uma esposa ou mãe ruim, um fracasso como mulher, que podem ser provocados pela depressão, tão comum nesses casos.

Eu também posso citar quando acontece de esse cenário ser recorrente na família. A mulher cresce assistindo à bisavó, à avó, à mãe, às tias dela vivendo um relacionamento de abuso, mas se mantendo firmes no casamento por acreditar que a união familiar é o mais importante e que todo sacrifício vale a pena; que casamento é assim mesmo e o resto é romantismo que só existe nos contos de fadas; que, com o passar dos anos, com a maturidade, o parceiro vai melhorando; que “ruim com ele, pior sem ele”.

Mas há uma coisa que termina passando despercebida, o que poderíamos chamar de ganho secundário, algo que, mesmo que a vítima não tenha dele consciência, a mantém na relação abusiva, impedindo-a de se separar, de buscar ou de aceitar ajuda. Esse ganho pode ser estar finalmente se sentindo parte de um grupo, como o das mulheres que sofrem, mas seguram a onda; pode ser receber, por estar em sofrimento, uma atenção que lhe foi negada desde sempre, inclusive na infância; pode ser até por estar “pagando pecados e se purificando”, o que é frequente em mulheres que foram vítimas de abuso sexual na infância e carregam uma culpa que não faz sentido.

Assim, procure um psicólogo para entender não apenas o que você está vivendo, mas o que a impede de se proteger como deveria, colocando-se em um risco que pode custar a sua vida e a de pessoas que lhe são caras. Você já se expôs demais!

Sugiro a leitura de DORMINDO COM O INIMIGO. Basta clicar nesse título. É um texto vai ajudá-la a abrir os olhos.

A mente humana é mesmo uma caixinha de surpresas. E há mais nela do que pode supor a nossa vã filosofia. Esse assunto é tão complexo que eu acredito que mereça mais conversas, uma série de textos. O que você acha? Quer participar? Então mande uma mensagem de WhatsApp para (61) 99188.9002, contando o que pensa sobre isso, sua experiência ou algum caso que você conheça.

Você pode comentar este texto logo depois dos anúncios, mesmo que você não seja assinante do jornal. Ou pode mandar um comentário para mim por WhatsApp no (61)991889002, para que eu o publique. Você também pode me enviar um texto que considerou interessante e que combina com este blog. Aguardo seu contato. Valeu!

MARACI SANT'ANA

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