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BBB 24 – É SURTO NO PARQUINHO!

Publicado em Psicologia, utilidade pública

Em se tratando de TV aberta no Brasil, não dá para negar que a Rede Globo é imbatível. Há trabalhos incríveis, produções impecáveis e, já não era sem tempo, preocupação em discutir temas como racismo e outros tipos de preconceito, identidade de gênero e orientação sexual, violência doméstica, importância dos povos originários, a vida nas favelas, e em colocar, por exemplo, atores negros em papéis tradicionalmente ocupados por tipos europeus em produtos como telenovelas, que têm um enorme alcance. Ou alguém sacava a importância desse viés ou a Globo estaria fadada a ser como as outras.

 

Mas há um programa que classifico como nojento – o Big Brother Brasil, que não acompanho há muitos anos. Assisti aos primeiros porque era uma novidade e eu, volta e meia, dava entrevista sobre o que acontecia na casa. Mas ninguém merece aquilo, nem mesmo quem faz assinatura para acompanhar por vinte e quatro horas. Só que, lamentavelmente, o público adora as baixarias, as brigas recheadas de gritos e ofensas, gente bêbada passando mal e dos limites, pessoas em surto, como se alguma dessas situações fosse engraçada.

 

Não sei dizer como são escolhidos os participantes. Mas, se eu fosse responsável por formar o elenco de cada temporada, considerando que, quanto maior o ibope, mais patrocinadores dispostos a bancar prêmios fantásticos, assim como, quanto maiores os prêmios, mais pessoas dispostas a assistir e sonhando entrar na casa, com certeza eu apostaria no “quanto pior, melhor”. Eu colocaria todas as minhas fichas no chamado mundo cão.

 

O grupo por mim formado teria gente jovem que fotografasse bem na piscina e na academia; gente do balacobaco, que conhece artistas, músicas e passinhos da moda; gente tranquila, ponderada; gente da pá virada; gente de diferentes classes socioeconômicas; gente de diferentes níveis de instrução; gente de diferentes regiões do Brasil; gente de diferentes identidades e orientações sexuais; eventualmente um estrangeiro, para ver a galera rasgando o portunhol; e todos com os hormônios lá em cima para sacudir edredons.

 

Não poderiam faltar pessoas que, quando bebem, perdem totalmente o rumo, muito provavelmente alcoólatras que ainda não perceberam que o são; e gente com transtorno psiquiátrico, mesmo que leve, que tem grandes chances de surtar. Aliás, estar isolado do mundo, longe de importantes referenciais como família e amigos, acompanhado apenas de desconhecidos com quem é preciso se alinhar e, ao mesmo tempo, contra quem se tem que competir para evitar uma expulsão e ganhar prêmios, pira qualquer um.

 

E, como se isso não fosse o bastante, eu capricharia nas votações e nos jogos de críticas abertas, e nos paredões triplos e quádruplos que não permitem que os participantes saquem se eles estão sendo amados ou odiados pelos milhões de pessoas que os observam dia e noite, inclusive muitos dos seus ídolos, durante provas tantas vezes humilhantes e extenuantes, durante mentiras e conchavos. Esse cenário extremamente estressante pode tirar qualquer um do eixo, principalmente porque os brothers e as sisters veem a sua passagem pelo show como uma oportunidade de ouro para tirar o pé da lama ou dar um rumo glamoroso a sua vida. Essa é a receita para o sucesso do BBB.

 

O BBB 24 já teve duas sisters que “surtaram” – Vanessa Lopes não suportou, pediu pra sair com apenas duas semanas na casa e, depois de um tempo fora, deu entrevista dizendo que recebeu um diagnóstico de psicose aguda, mas que já está bem. E nesta semana, Alane, ao saber que foi eliminada no último paredão, teve uma crise de choro em que socava a própria cabeça e repetia “Sou péssima”, “Sou a pior pessoa do mundo”, “Minha mãe está com raiva de mim”. Isso provocou debates sobre saúde mental e também muitas piadas na internet, para preocupação de quem, como eu, sabe o que pode estar por trás de um evento desse tipo.

 

Um surto é uma situação grave que exige intervenção médica imediata porque há risco para a pessoa e para quem com ela estiver em contato. Além de confusão mental, podem acontecer alucinações e atitudes de extrema agressividade que descambem em suicídio ou homicídio. Estresse agudo, transtornos psiquiátricos ou neurológicos, doenças do metabolismo, uso e abstinência de drogas lícitas e ilícitas podem precipitar um surto ou uma crise emocional. O socorro imediato é imprescindível, mas, não menos importante é o acompanhamento para identificação e tratamento da ou das causas.

 

Lembro do caso de uma empregada pública cedida a um ministério que começou a trabalhar segurando o celular atrás da cabeça. Segundo ela, para cortar as energias negativas enviadas pelos colegas de sala. Todos achavam aquilo muito doido e alguns chegavam a fazer piadas. O risco disso? De um momento para outro, do nada, ela poderia entrar armada no trabalho ou lançar mão de uma faca ou tesoura e cometer um desatino. Felizmente a mãe dela foi contatada e descobriu-se que ela sofria de esquizofrenia e que tinha suspendido, por conta própria, a medicação. Assim, ela foi afastada do trabalho antes que uma desgraça acontecesse. Mas o final dessa história poderia ter sido bem diferente. Não há graça nenhuma num surto.

 

Pra mim, só há algo pior do que o BBB, que é a adoração, a avidez com que as pessoas consomem esse tipo de produto. Infelizmente o mundo cão faz um enorme sucesso, o que vem garantindo a continuidade do programa. É desse jeito que os comerciantes ganham dinheiro – entregando aos consumidores exatamente o que eles querem. Empatia? Isso fica para Globo Repórter, Fantástico, Profissão Repórter e outros. O lema do BBB é fazer grana. Enquanto houver público, segue o baile! E que Deus tenha piedade de nós!

 

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14 thoughts on “BBB 24 – É SURTO NO PARQUINHO!

  1. Nelson Monteiro via WhatsApp: Maraci, francamente? Considero uma imoralidade, um despropósito esse tal de ‘BBB’. É deplorável e aviltante que as pessoas se submetam a isso! 🤮🤮🤮🤮🤮

  2. Oswaldo Fraga via WhatsApp: Boa matéria. Se não abrirem as mentes e os olhos ainda vão assistir uma degraça em tempo real, ao vivo e em cores.

  3. Regina Coeli via WhatsApp: Acho podre este tipo de programa, uma baixaria. Soube que certos convidados entram para gerar atritos, pois isto que alavanca o programa. Se fosse certinho não daria ibope afff como diz Halu Gamashi o ser está se desumanizando, eis o perigo nosso de cada dia ou década afff Bom cada louco com sua mania! Ave Nossa Senhora me acode! rsrsrs

  4. Fernando via WhatsApp: Boa tarde! Concordo plenamente com o explanado no texto. Acredito inclusive que esta situação (existir um programa nojento pra fazer grande sucesso) é um novo tema para um amplo estudo: Os gostos e os valores culturais da sociedade contemporânea. Se não, vejamos:
    – Na TV vemos o “sucesso” desse programa “nojento”;
    – Na política vemos o “sucesso” de políticos/lideranças que são contra as ciências (contra vacinas, por exemplo);
    – Na música, vemos o “sucesso” de cantores que, ou não tem voz (que possa ser comparada com grandes cantores do passado) ou não tem letras musicais (as músicas não trazem mensagens construtivas);
    – No esporte mais popular (futebol) o “sucesso” é de jogadores que são péssimos exemplos na vida pessoal e de resultados pífios, quando representam o país; Quer dizer:
    Atualmente, os grandes “sucessos” da nossa sociedade se vê naquilo que tem menos qualidades, menos merecimento.
    (Haja vista um caso de um político que conseguiu o cargo máximo da política do país e depois foi flagrado, ele mesmo, dizendo que nunca fez por merecer cargo tão importante (falou isso com as palavras chulas que ele costuma proferir)

  5. Dolvim via WhatsApp: Também não assisto há muitos anos. Não precisamos ver neuroses, psicoses, timopatias e perversões de quem não é paciente ….

  6. Infelizmente, em nosso país este tipo de entretenimento é o que a maioria gosta de ver. Talvez seja uma tragédia anunciada com tanta locura , ambição juntas. O mais triste que essas pautas são os assuntos mais comentados no dia, tristeza isso.

  7. Wagner Luís Pinto via WhatsApp: Sim, Mara, o BBB vem salvando financeiramente a Globo. Apostam no “quanto pior melhor”, como você disse. É o que quer consumir a nossa sociedade. Assisti alguns episódios no tempo do Bial. Gostava de ver os textos dele. Mas logo percebi que era um programa para empanturrar a globo e “emburrar” mais ainda as pessoas. A Globo tinha participação financeira inclusive nas ligações telefônicas. Pena que a nossa juventude é a parcela mais enganada.

  8. Teresa Cristina Dantas via WhatsApp: Falou e disse tudo. Nunca consegui ver nem um episódio desse programa. Acho o fim do mundo as pessoas ficarem assistindo aquelas baixarias e falta de ter o que fazer. Infeliz o povo que se apega a esses programas e a essas modas.

  9. Claudia Pinheiro da Silva via WhatsApp: A globolixo é impecável em ser um lixo…esse BBB,é a loucura explícita …não sei quem é pior se os que propõe a se candidatar, ou os que assistem…e,finalizando o hospício BBB ,fica a dica não assistam… Só para lembrar, ainda tem a fazenda, e agora começou a grande conquista, que segundo um participante que eu conheço do último programa…tudo não passa de uma grande manipulação…programas inúteis que ao meu ver colocam cada doido no seu lugar…

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