No País da Prova Nacional Docente

Publicado em Prova Nacional Docente

Cosette Castro & Deyse Mara

Brasília – Em um país com déficit de professoras e professores na rede pública, a realização da Prova Nacional Docente (PND) no último domingo de outubro (26/10) foi um feito inédito, urgente e necessário.

Essa falta não é um problema exclusivo do Brasil, como revelou o Relatório Global sobre Professores (Unesco, 2025). O défict é um desafio mundial. Faltam 44 milhões de professoras e professores em todos os países. Na América Latina seriam necessários mais 3,2 milhões desses profissionais.

No Brasil a situação é agravada pela contratação temporária em vários estados, inclusive no Distrito Federal, com 70% de professores temporários na rede pública. Essa situação precária e o percentual de 70% se repete em estados como Maranhão, Bahia e Pará, segundo o Censo Escolar 2024. O projeto Mais Professores para o Brasil e a Prova Nacional Docente (PND) são parte das iniciativas do Ministério da Educação para valorizar a categoria e reverter o quadro.

Na edição de hoje, convidamos uma professora da rede pública que fez a prova para comentar a PND. Deyse Mara Aparecida Francisco, mais conhecida como Deyse Mara, 38 anos, mora em Angra dos Reis (RJ) e é professora da rede pública municipal há 19 anos. Além de mãe e poetisa, foi a primeira pessoa da família a se graduar em uma universidade federal.

Deyse Mara – “Pela primeira vez na história deste país, tivemos uma Prova Nacional Docente, um marco que amplia de forma real as oportunidades para que professoras e professores concorram a vagas em diferentes estados e municípios de todo o território brasileiro.

Causa certa estranheza que um feito dessa magnitude – reuniu 1,089 milhão de pessoas – tenha sido tão pouco comentado pela opinião pública e pela imprensa. No entanto, para milhares de educadores, sobretudo para as educadoras, essa iniciativa do governo federal representa a possibilidade concreta de sonhar e acessar novos espaços.

Mulheres como eu, moradoras da periferia, comprometidas com a educação pública de qualidade, agora podem disputar um cargo público além das fronteiras municipais e estaduais, rompendo barreiras historicamente impostas pela regionalidade, pela renda e pela origem social.

A PND também quebrou paradigmas quando deixou para trás o modelo de concurso baseado apenas na memorização e trouxe questões interpretativas sobre a prática cotidiana docente. Abordou temas urgentes como inclusão, igualdade de gênero, racismo, intolerância religiosa, idadismo, educação de jovens e adultos, entre outros que estruturam uma educação para o combate à discriminação.

Trouxe ainda literatura de cordel e textos de artistas como Criolo, Emicida e Geraldo Azevedo, valorizando a cultura nacional e destacando sua necessidade nas práticas pedagógicas. Isso é comprometimento com o Brasil real. Isso é democratização.

Assim como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) tirou o vestibular do pedestal e colocou o filho da classe trabalhadora dentro da universidade pública e o  Concurso Nacional Unificado (CNU) ampliou o acesso para que cidadãs e cidadãos disputem vagas em diferentes órgãos federais com uma única inscrição realizando a prova perto de onde moram, a Prova Nacional Docente inaugura um novo capítulo de inclusão e justiça educacional no Brasil.

Isso é política pública. Isso é inclusão.”

O Coletivo Filhas da Mãe apoia iniciativas que reduzam a desigualdade social no país e que valorizem as professoras e professores com melhores salários, um plano de carreira que garanta o envelhecimento com dignidade e infraestrutura nas escolas públicas.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*