Palavras que Cuidam

Publicado em autocuidado e cuidado coletivo

Cosette Castro

Brasília – A semana começa com a cena emocionante de visibilidade das mulheres com câncer em um estádio de futebol. Uma ação que não deveria ser isolada ou esperádica. É um cuidado coletivo que precisa se espalhar pelo Brasil.

Em se tratando de cuidado, recentemente tivemos dois projetos de autocuidado e cuidado coletivo também emocionantes no Coletivo Filhas da Mãe.

Um deles foi a 3a. edição da Trilha Urbana “Os Caminhos de Athos Bulcão na Asa Sul” realizada em parceria com o Grupo de Caminhadas Brasília (GCB) desde 2023.

Apesar do tempo fechado e da ameaça de chuva, 50 pessoas de diferentes idades sairam das Regiões Administrativas (RAs) e percorreram a pé a Capital Federal. Na manhã de domingo, elas descobriram ou puderam rever a obra de Athos Bulcão na Asa Sul.

Essa é mais uma forma de ocupar a cidade, de estimular a saúde física e mental, de promover o encontro e novos saberes. Brasília é um museu a céu aberto e a Trilha Urbana contou com os comentários do jornalista Vitor Borisow. Percorrer a pé suas quadras e obras de arte também ajuda a reforçar nossa noção de pertencimento. (Veja aqui o álbum compartilhado repleto de memórias coletivas).

Durante a semana Natália Duarte, da Coordenação do Coletivo Filhas da Mãe, conduziu a 2a. Oficina de Escrita Criativa de 2025 sobre “Palavras que Cuidam” no mês da pessoa idosa. As Oficinas começaram no final de 2022 e deu tão certo que segue desde 2023 em parceria com a Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB).

Hoje Natalia Duarte conta no Blog sobre a importância da realização da Oficina “Palavras que Cuidam”.

Natalia Duarte – “Sou cuidadora do meu pai de 91 anos que tem Alzheimer. A proposta da Oficina nasceu da urgência de olhar para quem cuida — especialmente mulheres que acompanham familiares com demência. E de oferecer um espaço de autocuidado, escuta, expressão e afeto para essas mulheres invisibilizadas diariamente.

Durante os dois encontros de duas horas, as cuidadoras familiares experimentaram a escrita como prática de autocuidado. Não se tratava de produzir textos bonitos, mas de escrever para lembrar de si.

No primeiro dia, abrimos o necessário espaço para as dores. Usamos disparadores como “Hoje o que mais me pesa é…” e “O que ninguém vê…” para que cada mulher pudesse nomear o que carrega. A escrita revelou cansaços profundos, silêncios antigos e uma força vital que resiste mesmo quando tudo parece desabar.

No segundo dia, voltamos o olhar para o desejo. Frases como “Se eu pudesse me cuidar sem culpa, eu…” e “O que ainda quero viver…” trouxeram à tona sonhos esquecidos, vontades adiadas e a necessidade urgente de existir para além do cuidado. Encerramos com um manifesto de autocuidado escrito por cada participante.

Um compromisso íntimo com o próprio bem-estar. Cuidar de si não é luxo e escrever sobre si é um gesto profundo de autocuidado. É quando damos forma ao que sentimos, nomeamos emoções que antes eram confusas e começamos a entender os sentimentos que nos atravessam.

A escrita pode nos revelar padrões, desejos, limites. E nos convida a um encontro íntimo com quem somos. No papel, encontramos um espaço seguro: ele não julga, apenas acolhe. Ali, podemos existir sem máscaras, sem exigências.

Ao escrever, soltamos o que estava preso: mágoas, angústias, cansaços que não tinham por onde escapar. É uma forma de descompressão emocional, de alívio silencioso. E, acima de tudo, escrever é afirmar nossa existência. É dizer com todas as letras: “Eu importo. Minha vivência tem valor.”

Escrever sobre si é um ato de autocuidado porque nos permite escutar o que muitas vezes ignoramos. É um gesto de validação, de presença, de reconexão. E quando feito em grupo, vira também rede, afeto e cuidado coletivo.

A oficina foi um espaço seguro, onde cada palavra foi um abraço e cada silêncio foi respeitado. Que mais mulheres possam encontrar na escrita um lugar de descanso. Que o cuidado não seja solitário. Que possamos seguir escrevendo — e existindo — com visibilidade e dignidade”.

No Coletivo Filhas da Mãe acreditamos no poder das palavras faladas e escritas, pois só existe o que é nomeado.

Com quase 06 anos de existência seguimos estimulando o autocuidado e o cuidado coletivo. E nos emocionamos com cada historia, cada abraço e cada encontro.

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