Cosette Castro
Brasília – Esta semana estive na Faculdade de Ciências da Saúde da UnB para falar sobre “Quem Cuida de Quem Cuida?” no curso de formação de cuidadoras e cuidadores. Das 64 pessoas inscritas, há dois homens.
“Quem Cuida de Quem Cuida?” é a pergunta que gerou há quase seis anos o Coletivo Filhas da Mãe. Somos um movimento social que apoia cuidadoras famíliares de pessoas com demências e estimula o envelhecimento saudável, ativo e participativo.
As mulheres são a mão de obra gratuita que move e sustenta o Brasil, como lembram os movimentos de mulheres e os dados comprovam.
Elas também sustentam financeira, física e emocionalmente as famílias. 49,3% das mulheres são chefes de família no país. E esse percentual cresce entre mulheres idosas que sustentam a família, inclusive netos, pessoas doentes e até bisnetos.
No que diz respeito ao cuidado não remunerado, segundo a Secretaria Nacional de Cuidados (2024), 86% é realizado por mulheres de todas as idades, inclusive com 60 anos ou mais. Não paramos de cuidar a vida inteira, inclusive quando fazemos voluntariado, outra força invisível e gratuita no Brasil.
Quanto mais fragilidade social, mais cedo elas começam a cuidar da casa e de familiares. Lá pelos 09, 10 anos as meninas já estão “ajudando” a cuidar dos irmãos mais novos, fazendo comida e limpando a casa.
Esse ciclo de sobrecarga e violência estrutural inclui uma omissão histórica do Estado. Faltam creches, centros de convivência intergeracionais, centros dia, projetos para pessoas com deficiência e instituições de Longa permanência para Pessoas Idosas (ILPIS) públicas.
Sem instituições públicas de apoio, mais cedo meninas e adolescentes das periferias, das zonas rurais, quilombolas, ribeirinhas e de cidades distantes são obrigadas a abandonar ou postergar os estudos, sonhos e projetos.
Mesmo com formação, elas chegam ao mercado de trabalho ganhando menos. Menos ainda se forem mulheres negras ou pardas. Ainda assim, sustentam o país e formam redes de apoio a outras mulheres que vivem em situação precária.
Se o trabalho de cuidado de pessoas da família e o cuidado doméstico fosse remunerado com 01 salário mínimo, ele representaria 13% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. De acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (2023), isso significa algo em torno de 273 bilhões de dólares. Mas segue sendo trabalho gratuito e invisível realizado por mulheres.
Mulheres que cuidam famíliares com dêmencias, na maioria dos casos precisam parar de trabalhar e/ou estudar ou reduzir as horas de trabalho remunerado. Isso pode durar até 25 anos. Mulheres que cuidam famíliares com deficiência, com a longevidade, podem cuidar por 50 anos. Meio século.
Elas cuidam sem remuneração e sem direito à aposentadoria, embora os anos desse trabalho sem remuneração sobrecarregue física e mentalmente e adoeça as mulheres.
Também é invisível o trabalho das cuidadoras profissionais, seja de pessoas (crianças, pessoas doentes ou com deficiência, pessoas idosas), seja o cuidado doméstico. São cerca de 6 milhões de mulheres, a maioria negras ou pardas, que trabalham de forma precarizada.
Conforme dados do Observatório das Mulheres (2025), 77% das mulheres realizam o trabalho de cuidado doméstico remunerado no país sem carteira assinada e sem direitos sociais.
Além disso, elas trabalham em escala 7×7, todos os dias da semana. Diferente dos homens, que reivindicam fim da escala 6×1, elas não têm um dia para descansar. O domingo é dia de limpar a casa, lavar roupa, dar atenção para família e preparar comida para a semana. E na segunda, começar tudo outra vez.
Em meio a essa realidade, movimentos sociais de todo o país, entre eles o Coletivo Filhas da Mãe, participaram desde 2023 da construção da Política Nacional de Cuidados (PNC), Lei .15069, de dezembro de 2024. Trata-se de uma Lei inédita que contou com a mobilização e o trabalho transversal de 22 ministérios.
A PNC reconhece o cuidado sem remuneração como trabalho e co-responsabiliza as famílias, em especial os homens no cuidado familiar, assim como a sociedade e o Estado na construção de uma Sociedade do Cuidado.
Enquanto isso estamos esperando a implementação do Plano Nacional de Cuidados que deveria ter sido apresentado à população em setembro. Que chegue com metas claras e orçamento e financiamento suficiente para tirar o Brasil da Sociedade da Violência em que vivemos.
PS: Dias 16 e 17 Celinha Neves e eu estamos participando do I Seminário Internacional de Políticas Públicas em Demência na Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) realizado pela ABRAZ. O Seminário traz uma proposta de Plano Nacional de Demências que contou com contribuições do Coletivo Filhas da Mãe. Já Natália Duarte coordenou a 2a. Oficina de Escrita Criativa de 2025 em parceria com a Biblioteca Demonstrativa de Brasília (BDB).
PS: Neste domingo, dia 19, tem a 3a. Trilha Urbana “Os Caminhos de Athos Bulcão na Asa Sul”, que será conduzida pelo jornalista Vitor Borisow. A trilha aberta tem parceria com o Grupo Caminhadas de Brasília. Encontro às 8h30 em frente ao Sesi Lab (localizado ao lado da Biblioteca Nacional). Saiba mais aqui
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