O Último Azul e Outras Distopias

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Cosette Castro & Vicente Faleiros

Brasília – Este domingo o Coletivo Filhas da Mãe abriu, na Capital Federal, a campanha Setembro Roxo, mês de conscientização sobre as demências, entre elas o Alzheimer. A abertura ocorreu no Parque Olhos D’Água, com distribuição de folhetos informativos à população e fala sobre prevenção de demências durante a apresentação musical do Coletivo Café com Chorinho.

Enquanto isso, o verde e amarelo se estenderam na Esplanada dos Ministérios com desfile que teve como tema a soberania brasileira. Milhares de pessoas foram às ruas para aplaudir o Brasil, o lugar onde nascemos e onde vivemos em uma democracia.

Em outro estado, alguns preferiram estender uma bandeira estrangeira em pleno solo brasileiro. Sem medo ou vergonha, pois vivemos em uma democracia. Eles escrevem em inglês, usam roupas e bonés que glorificam um país estrangeiro com o desejo de que fosse o seu. Mas não é.

Enquanto uns vivem a fantasia de serem subordinados a outro país, trazemos como convidado, o professor emérito da UnB, Vicente Faleiros, 84 anos, pesquisador na área do envelhecimento. Ele comenta o  filme ‘O Último Azul”, uma distopia cujo governo quer sumir com seus velhos e velhas.

Vicente Faleiros – “O filme O Último Azul, de Gabriel Mascaro, ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2025. Ele é estrelado por Denise Weinberg, Rodrigo Santoro e Miriam Socarras. A obra prima pela fotografia de Guillermo Garza e pela música de Memo Guerra. O cenário é a Amazônia com sua economia e cultura populares, suas palafitas e sua exuberância.

Ele trata da estruturação e da desestruturação do idadismo ou preconceito para com as pessoas idosas. Em artigo sobre idadismo na Revista Oikos, conceituo o idadismo como a estruturação de ‘um lugar sem lugar’ para pessoas idosas na sociedade capitalista competitiva. O lugar do qual a personagem Tereza busca fugir é de uma colônia governamental que está confinando idosos.

Nesse local, ela seria privada de sua vida pessoal, de sua cultura, de seus contatos e desejos. A busca da realização de si mesma na velhice tem raízes que a colônia cortaria radicalmente, pois ser radical é viver com suas raízes. Pessoas idosas se desenvolvem com as raízes históricas que as constituem.

Tereza usa de estratagemas para encontrar uma outra vida fora da colônia, construindo relações em uma viagem pelos rios e aglomerados ribeirinhos refazendo suas raízes com liberdade e dificuldades.

A liberdade de envelhecer precisa romper os grilhões do idadismo mesmo com estratagemas que exigem quebra das burocracias que aprisionam as pessoas idosas. Tereza busca vencer burocracias e repressões ainda que seja necessário comprar sua liberdade com os poucos recursos de que dispõe. Ela é uma operária de um frigorifico de jacarés.

A família  de Tereza não aceita sua liberdade, mas ela busca a desestruturação das amarras e a autonomia do envelhecer com aprendizagem de novos modos de viver seus 77 anos. Tereza busca a reinvenção do seu corpo e da cultura, aprendendo até mesmo a conduzir o seu barco e usar dispositivos para tornar a vida mais azul.

A reinvenção da velhice com liberdade em uma sociedade com mais longevidade e discriminação é um processo que exige a ruptura dos preconceitos e das relações de violência contra as pessoas idosas.

Nesse sentido, o filme contribui para pensar o envelhecimento na dinâmica das opressões e mesmo de apropriações do fruto financeiro dos trabalhos exercidos durante sua vida. Os recursos das aposentadorias são resultado do trabalho e precisam ser usados conforme a decisão autônoma das pessoas idosas.”

No Coletivo Filhas da Mãe seguimos acreditando no Brasil e na força das 35 milhões de pessoas idosas que ajudaram e seguem ajudando a construir o país.

Cosette Castro

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