Cosette Castro & Maria M.
Brasília – Enquanto pensamos em políticas públicas para o envelhecimento saudável e ativo, em políticas de cuidado para todas as idades e em diferentes formas de estimular a saúde física e mental de quem cuida um familiar enfermo, a realidade crua e dura bate na porta.
Eu atendo, escuto, acolho. E, quando possível, compartilho no Blog.
O relato de hoje é de uma cuidadora 24 horas. É mãe solo, professora da educação básica, que há nove dias (sim, nove dias) enfrenta a falta de água em seu bairro na periferia de uma cidade turística do Rio de Janeiro.
Maria foi o nome fictício dado para protegê-la de qualquer risco. Mas essa jovem mulher de 38 anos poderia ter o nome de todas nós. Ela representa todas as Marias invisíveis do Brasil.
Ela mora na área rural de um bairro periférico em Angra dos Reis (RJ). No interior do interior. Maria, a primeira pessoa a se formar na universidade em sua família, vive longe da região turística, do centro histórico charmoso e das badaladas praias que costumamos ver pela televisão. Ou visitar.
Até poucos dias antes da crise da água, ela também cuidava dos pais idosos em sua casa depois que a mãe ficou doente e foi hospitalizada. Com a crise da água, os pais voltaram para casa, em outra cidade. Sem a filha única cuidadora.
Com a palavra, Maria que sonha em fazer o Enem dos Concursos, é poetisa e contista. Ela escreve nos ônibus e quando dá.
Maria – “Oito dias. Fim da necessidade básica.
São seis horas da manhã. Os olhos despertam junto ao desespero.
O silêncio ecoa dentro da caixa-d’água suspensa no sobrado da comunidade periférica da cidade dos Reis. Ela sempre foi dos Reis. E eu, sem coroa, sem trono, estou na dúvida se sou súdita ou boba da corte.
Só tenho uma certeza: são seis horas e uma jornada de dez horas me espera.
Estou a caminho. Mochila, marmita, cartão cidadão, pronta-entrega de calcinhas, entrega de cosméticos. Sem higiene básica. Foi assim entrei no ônibus com minha legging, all star, casaco suficiente para o frio úmido do Rio de Janeiro: uma mistura de professora com sacoleira.
Bati meu ponto, dei bom dia para as merendeiras (elas são as primeiras a chegar na creche). Mergulhei de cabeça no trabalho, nas brincadeiras, nas fofocas e desabafos com as colegas. Eu não queria pensar na falta d’água.
Mas minha amiga, que tem carro, chegou com meu saco de roupas sujas na mão e disse: ‘Trouxe suas roupas pra você lavar aqui no trabalho’. P.q.P! Que humilhação!
(Olhamos uma pra outra e caímos na gargalhada.)
É o que mais tenho feito nos últimos dias: ando rindo dos meus próprios problemas, fazendo piada com o caos, anestesiando a dor com brincadeira.
Tudo isso é estratégia de sobrevivência de uma professora, mãe solo, periférica, moradora de uma comunidade abandonada pelo poder público, que há mais de uma semana não apresenta solução para o fornecimento do essencial: ÁGUA.
Estou impossibilitada de fazer comida, lavar louça, tomar banho, escovar os dentes, lavar roupas, limpar a casa. Impossibilitada de dar descarga nos meus dejetos. Eu mesma me sinto um dejeto dessa cidade. Depositada no esgoto do descaso.
O que fazer? Fugir! Sim, eu planejo fugir: da cidade e da realidade, do jeito que for possível. Pego filho, mochilas, 60 km de estrada em um ônibus e volto para a casa dos meus pais.
Minha mãe está doente. Eu que estava cuidando dela. Hoje sou acolhida com feijão fresco, vaca atolada e dois abraços com cheiro de cigarro.
Aqui tem água. Aqui tem dignidade. Aqui tenho lar.
Por um fim de semana eu finjo que sou digna, enquanto rezo para que esse caos acabe antes que acabe comigo.
Até que a segunda-feira venha me exigindo novas estratégias de guerra.
Eu não quero mais ser guerreira. Só quero um pouco de paz, dignidade e água”.
PS: Esse domingo estaremos caminhando no Parque das Garças, situado no final do Lago Norte. É uma caminhada leve junto a orla do Lago. Encontro 8h45. Saída; 9h, na entrada do Parque. Lembre de levar algo para o lanche compartilhado.
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