Cuidado Até o Fim da Vida

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Cosette Castro & Vicente Faleiros

Brasília – Está disponível em circuito nacional o filme “A Bela Vida”, do diretor franco-grego Costa Gavras, 92 anos. O diretor, conhecido por sua obra cinematográfica de cunho social, aborda os cuidados do fim da vida. E afirma que fez o filme para si mesmo.

Apesar da delicadeza, o filme tem dividido as audiências. Enquanto uma parte sai aliviada e aplaude a obra, outras saem com medo exposto, assustadas. Como se não pensar sobre a morte fosse a forma mais fácil de enfrentar a vida e o futuro.

Isso não ocorre por acaso. Vivemos em uma sociedade que nega a finitude e foge da morte ao invés de buscar dignidade até o fim da vida. A morte, física ou simbólica, é sempre a morte do outro. Para refletir sobre o tema, o convidado desta edição é o professor emérito da Universidade de Brasília (Unb), Vicente Faleiros, 84 anos, especialista em envelhecimento.

Vicente Faleiros – “Costa Gavras fez um filme sobre ‘O Último Suspiro’ (em francês Le Dernier Souffle), traduzido para o português como “A bela vida”. Os personagens, na maioria pessoas idosas com câncer, manifestam suas ansiedades e revoltas, bem como os últimos desejos na situação de fim de vida.

A história se passa em um ambiente hospitalar e mostra a interlocução entre um médico, Augustin Masset, e um escritor e filósofo, Fabrice Toussaint.

O diretor coloca a questão da interrupção de tratamentos invasivos de obstinação pela prolongação da vida (distanásia) com a interlocução com cuidados paliativos (ortotanásia) e a eutanásia ou suicídio assistido. O médico ajuda o escritor a pensar sobre essas questões acompanhando a manifestação dos pacientes e familiares que são confrontados com a finitude e com a suas histórias de vida.

Falar e expressar a vida em confronto com o fim da vida mostra a existência humana na sua dinâmica existencial de desejos e de finitude.

O filme aponta a viabilidade de uma morte digna, de se viver a morte com cuidados e desejos. Também traz a articulação entre as histórias de vida e a inevitabilidade da morte com abertura para o diálogo entre profissionais, o paciente e as famílias com suas diversidades.

Não há mortes iguais. A sociedade, família e Estado precisam dar visibilidade a essa discussão e abrir, cada vez mais, espaços para humanizar e ouvir as pessoas em fim de vida e implementar cuidados.

No Brasil alguns passos começaram a ser dados em 2024.

O Ministério da Saúde estabeleceu uma Política Nacional de Cuidados Paliativos através da Portaria 3.681/2024. Esta Portaria prevê a criação de equipes multidisciplinares, o direito à informação, à interação com a família e à ajuda para aliviar o sofrimento. A morte digna é um direito.

Falar da morte em uma sociedade que, ao mesmo tempo, a impõe pelas guerras e assassinatos e também a esconde nos recônditos dos silêncios, é um grande desafio.

A vida se manifesta nas circunstâncias da morte. Seja pela intercorrência de dinâmicas externas à pessoa, seja pela elaboração da reflexão do moribundo, seja pela interferência dos relacionamentos e da estruturação dos cuidados.

O filme aprofunda essas questões com uma estética e música que mantêm o interesse e a emoção da audiência. Os diálogos vão se aprofundando entre o médico e o filósofo, preocupado com a própria morte, e os pacientes.

Essas conversas, nas suas várias situações, mostram que os relacionamentos no fim da vida explicitam histórias, abrem ressignificações em um processo de perguntas e de busca de respostas com várias interpretações sobre a finitude.”

No Brasil, cerca de 625 mil pessoas necessitam de cuidados paliativos (Ministério da Saúde, 2024). Elas enfrentam doenças graves, crônicas ou em finitude e têm direito à qualidade de vida e também a uma morte digna. Desde janeiro deste ano o país conta com o primeiro hospital público dedicado aos cuidados paliativos em Salvador (BA). São os primeiros passos de uma longa caminhada.

PS: Neste domingo, 03/08, haverá caminhada no Parque Olhos D´Água (SQN 413/414). O encontro, às 8h45, é na entrada do parque, logo após os banheiros. Traga algo para contribuir com o lanche compartilhado. Depois das 10h, haverá apresentação gratuita do grupo Café com Chorinho. Esperamos você!

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