Fitas na Bolsa e Voto na Mão

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Cosette Castro & Natalia Duarte

Brasília – Enquanto os movimentos sociais começam no Brasil campanha nacional de voto popular contra a jornada 6X1 e pela taxação de impostos aos mais ricos, a convidada desta semana faz um convite às leitoras e leitores.

Nesta edição, a professora Natalia Duarte, do CEAM/UnB e da Coordenação do Coletivo Filhas da Mãe,  convida a pensar sobre uma campanha de solidariedade que começou na Inglaterra há dois anos. E pode ser multiplicada no Brasil por seu simbolismo e simplicidade.

Natalia Duarte – “Essa semana circulou uma reportagem sobre o uso simbólico de uma fita amarrada na bolsa de mulheres. A campanha começou há dois anos na Inglaterra e ganhou força. O gesto virou um símbolo poderoso de empatia e apoio entre mulheres, especialmente as mães.

A campanha foi criada pela psicoterapeuta britânica Anna Mathur, que, exausta com a rotina de cuidar de três filhos e trabalhar fora, teve a ideia de usar uma fita como um sinal silencioso de solidariedade. A proposta é simples: se você vir uma mulher com uma fita na bolsa, isso pode significar que ela está aberta a oferecer apoio a outras mães ou que ela mesma precisa de ajuda naquele momento.

O trabalho de cuidar de crianças exige múltiplas tarefas e uma combinação intensa de energia física, presença emocional e vigilância mental. Isso torna o cuidado desgastante e exaustivo, principalmente quando não há rede de apoio e com quem compartilhar o trabalho de cuidado.

Exige nunca “desligar”, mesmo nos momentos em que, teoricamente, a mulher deveria descansar. Há uma carga mental invisível para administrar múltiplas tarefas: escola, consultas, remédios, refeições, roupas, compromissos… tudo isso ocupa espaço na mente.

O cuidado também exige emocionalmente. Lidar com sentimentos intensos das crianças como choro, frustrações e crises demanda empatia constante que pode esgotar.

A falta de reconhecimento das exigências desse trabalho de cuidado diário gera um sentimento de invisibilidade e desvalorização. Quando somados ao pouco tempo que cada mulher tem para si significa renunciar ao autocuidado, ao descanso, aos hobbies e à socialização.

No Coletivo há cinco anos fazemos a pergunta: Quem cuida de quem cuida? Por isso movimentos como o uso de uma fita na bolsa são tão importantes, porque reconhecem o esforço silencioso e abrem espaço para apoio mútuo. O movimento inglês criou uma rede silenciosa de apoio, gravou relatos na internet combatendo o isolamento e a sobrecarga emocional que tantas mães enfrentam.

Na Coordenação do Coletivo, pensamos em fazer o mesmo gesto usando na bolsa fitas com as cores roxa e lilás, que representam as cores da campanha sobre demência.

O intuito é reconhecer outras cuidadoras e sermos vistas como cuidadoras não remuneradas de familiares que têm demência, entre elas o Alzheimer. Do mesmo modo, sofremos com sobrecarga física e emocional em um trabalho invisível que não tem perspectiva de diminuir, apenas aumentar, pois as demências são síndromes neurodegenerativas progressivas e sem cura.

É preciso fortalecer nossa rede de apoio para o fortalecimento individual e também coletivo. No mesmo sentido, é preciso fortalecer as redes de cuidado que existem, especialmente as públicas. Por isso é preciso um grande movimento de cuidadoras para cobrar do Congresso Nacional que não haja mais cortes nas políticas sociais.  Quando não há recurso para as políticas sociais aumenta a sobrecarga física e mental do trabalho de cuidado para nós, mulheres.

Não queremos que o governo corte gastos com políticas sociais; queremos sim a taxação dos super ricos, dos bancos e das betes, as empresas de  digitais de apostas. Queremos o fim da escala 6X1 para poder descansar; isenção de imposto de renda para quem ganha até 5 mil reais.  Queremos mais creches públicas, mais escolas integrais e centro-dias para as pessoas idosas. Queremos centros de convivência  gratuitos para quem cuida e mais remédios na farmácia popular.

Some-se com a gente nos dois movimentos. Vote no Plebiscito Popular em urna presencial e participe da campanha solidária de colocar fitas na bolsa.

Se você é mãe, amarre uma fita vermelha na bolsa e se você  também é cuidadora de um familiar com demência amarre  duas fitas, lilás e roxa na sua bolsa. Ou ainda use as três fitas. Muitas de nós somos cuidadoras sanduíches: cuidamos dos filhos e dos pais ao mesmo tempo”.

Esta semana pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelou que 95% das pessoas que cuidam pessoas com demência no Brasil são mulheres, com ou sem remuneração. Temos muitos motivos para usar fitas na bolsa e promover o cuidado coletivo.

PS2: Autocuidado – Este domingo tem caminhada no Parque Olhos D´Água, na Asa Norte. Encontro às 8h45, na entrada, logo após os banheiros. Saída: 9h. Depois da caminhada e do lanche, tem música com o coletivo Café com Chorinho.

Cosette Castro

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