Cosette Castro
Brasília – Apesar de possuir 5.570 municípios (IBGE, 2025), no Brasil no Brasil existe apenas um Centro Dia 100% público especializado em pessoas com Alzheimer, o tipo mais conhecido de demência.
Diferente do que se poderia esperar, este tipo de serviço público especializado não existe na Capital Federal que, aliás, não possui nenhum tipo de Centro Dia público para pessoas idosas.
A primeira iniciativa pública especializada no Brasil começou suas atividades há 11 anos no município de Volta Redonda (RJ) e atende semanalmente 80 pessoas em sistema continuo. São pacientes com 60 anos ou mais diagnosticados com Alzheimer e suas famílias.
Para conhecer de perto a experiência que é pioneira na América Latina, a convidada desta edição é a Psicóloga Danielle Freire, Coordenadora do Centro Dia para Pessoas Idosas com Alzheimer e Familiares de Volta Redonda.
Danielle Freire – “Diante dos apontamentos da comunidade científica, não nos cabe mais apenas dizer que o número de idosos aumenta significativamente no mundo. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024) mostram que há 35 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil. Basta que cada um de nós olhe ao seu redor, nas próprias famílias, entre os vizinhos e vizinhas e entorno para acompanhar o envelhecimento populacional. Boa parte dessas pessoas precisam cuidados.
Também evidenciamos pessoas idosas cuidando de outras mais idosas. Em sua maioria, as cuidadoras familiares são mulheres. Mulheres adoecidas diante do cuidado de seus entes com diferentes necessidades vindas do processo de envelhecimento.
Quem cuidará de toda essa coletividade? Principalmente, das milhares de mulheres cujo autocuidado tem sido negligenciado pelo exaustivo cuidado de familiares idosos com Alzheimer ou outras demências. Essas cuidadoras familiares a curto ou médio prazo demandarão do Poder Público ações e políticas públicas que garantam seu bem-estar.
Desde 2004, a Política Nacional de Assistência Social preconiza atendimentos em Centros Dia públicos, sem ônus para a população. Esse cuidado macro engloba não só a pessoa idosa, mas todo seu núcleo familiar. Ou seja, promove a qualidade de vida da família, reduz o número de inserções em Instituições de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPIs) e garante o processo de envelhecimento protegido e especializado.
No município de Volta Redonda (RJ) existe há 11 anos o Centro Dia de Atendimento para pessoas idosas com Alzheimer e seus familiares. O Centro Dia especializado promove estimulações neurocognitivas, motoras e sensoriais nas pessoas idosas. Também acolhe, escuta, orienta e direciona as famílias.
Com essas atividades, o Centro Dia ajuda a reduzir os altos níveis de estresse de quem cuida e da família. Ele também fomenta ações no campo de pesquisa das diferentes áreas da Gerontologia e realiza Rodas de Conversa levando até a população informações sobre a Doença de Alzheimer (DA).
Quando o assunto são as pessoas idosas, erroneamente, os gestores colocam a pauta como uma política pública isolada. Entretanto, os Centros Dia são a concretização da ação do Estado na garantia de direitos de todos os membros de uma família. Até 2022, segundo dados do Ministério Público/RJ, o Rio de Janeiro possuía apenas seis Centros Dia públicos em funcionamento. E somente o de Volta Redonda é especializado em atender casos de Alzheimer e suas famílias.
Em 2024, o Centro Dia pioneiro recebeu o Prêmio Zilda Arns pela Defesa e Promoção dos Direitos da Pessoa Idosa pela Câmara dos Deputados. E foi ali que descobrimos que somos o único Centro Dia agraciado com propostas em nível governamental, sem custo para as pessoas idosas e suas famílias.
Segundo o Relatório Nacional sobre a Demência (2024), o número de pessoas idosas com demência no mundo saltará de 55 milhões (2021) para mais de 150 milhões em 2050. Nesse contexto cabe perguntar: em alguns anos, você estará cuidando ou necessitará de cuidados? Caso precise, qual a responsabilidade do poder público na promoção do cuidado gratuito e na sua qualidade de vida?”
No Coletivo Filhas da Mãe apoiamos a multiplicação de Centros Dias públicos para pessoas idosas em todo o país como forma de sociabilidade, novos aprendizados e prevenção de doenças. E apontamos a necessidade da criação de Centros Dia Públicos Especializados em Demências.
É urgente oferecer qualidade de vida para quem espera o diagnóstico ou já foi diagnosticado com algum tipo de demência. Também precisamos proteger as pessoas que cuidam sem remuneração para evitar o adoecimento de outras gerações da mesma família.
2 thoughts on “Quando Teremos Centros Dia Públicos para Pessoas com Demência em todo Brasil?”
vamos nessa!!!
Olá Vagner
Sim, precisamos ampliar o número de Centros Dia públicos para pessoas idosas e Centros Dias Especializados públicos para pessoas idosas com demências. Abs