Cosette Castro
Brasília – Às vésperas do Esquenta Carnaval 2025 do Bloco Filhas da Mãe que vai acontecer neste domingo na Capital Federal, surge no Brasil o verbo fernandatorrizar.
O que a princípio poderia parecer uma brincadeira pré carnaval, está se tornando, como sugere a jornalista Milly Lacombe (ver aqui), um sentimento, um movimento e um novo verbo.
Fernanda Torres já morava no coração de brasileiras e brasileiros que gostam de cinema, teatro e televisão. E gostam mais agora, pois ela trouxe de volta o sentimento de orgulho da cultura nacional.
A proposta de Lacombe permite abrir outras portas para pensar o envelhecimento feminino. Algo que já circula entre os grupos de mulheres 50 e 60 mais, nas teorias feministas e nas redes sociais digitais.
Vai além do “tempo de validade” que vem sendo imposto há séculos para as mulheres na medida em que vão envelhecendo. Ou da queda de lugar na “prateleira amorosa”, de que fala a pesquisadora Valeska Zanello.
A atriz Fernanda Torres tem circulado no cenário internacional divulgando o filme “Ainda Estou Aqui” e concorre ao Oscar 2025. E tem mostrado em suas entrevistas que é possível envelhecer com humor, sendo engraçada e, ao mesmo tempo sensual.
Ela aponta um deslocamento. Não só geográfico. Representa um modelo diferente do padrão de beleza imposta na competitiva Hollywood, onde as mulheres têm data marcada para deixarem de ser “interessantes”.
Fernanda Torres mostra a possibilidade de viver em mundo sem medo e sem vergonha do próprio corpo. Sem imaginar que é “legal” esconder a idade. Ou que é elogio quando alguém diz: “você nem parece ter essa idade”.
Ela está aceitando a idade, desfrutando a fama e apontando as diferentes possibilidades que a maturidade pode apresentar. Para ela e para outras mulheres.
Tanto o filme dirigido por Walter Salles quanto Fernanda Torres têm mobilizado a população brasileira. Estamos torcendo pelo filme e pela atriz como nos tempos da fórmula 1, que dominava os domingos pela manhã dos anos 90. Só que naquele tempo torcíamos pelo sucesso de um homem em um dos esportes mais elitistas que existe.
Fernanda Torres também é movimento entre os jovens estudantes.
Há poucas semanas um diretório acadêmico da UnB fez um concurso de quem era a estudante mais parecida com a atriz no filme “Ainda Estou Aqui”. Valia ser parecida fisicamente, mas também captar o espírito, o jeito de ser. Eles já estavam fernandatorrizando, mesmo sem se dar conta.
E como movimento, já circulam máscaras suas para o Carnaval 2025.
Nas entrevistas internacionais, ela brinca, mas sem perder a profundidade. Ela critica com humor. É atenciosa e afetiva. E ao fazer isso, revela ao mundo o melhor lado da nossa brasilidade.
Apesar das desigualdades sociais, somos um país divertido e bem humorado, que ri de si mesmo. Não é por acaso que somos o país que mais produz memes mundo.
Como mulher, Fernanda Torres sai do lugar do medo, da vergonha das rugas e do risco do descarte, mostrando ao mundo um outro envelhecimento possível. E lembra que a idade representa apenas números, com diferente peso para homens e mulheres.
Que lugar interessante ela está inspirando. Ajudar mulheres de diferentes idades, inclusive as mais jovens, a terem a possibilidade de gostar da sua idade e também dos seus corpos.
Vamos fernandatorrizar o Brasil pelo fim do preconceito por gênero, idade, raça, deficiência ou religião. Vamos mostrar que é possível construir um Brasil mais diverso, divertido, com autocuidado e cuidado coletivo.
PS: Domingo, dia 16, tem o Esquenta Carnaval 2025 do Bloco Filhas da Mãe, no Beco da Infinu (Quadra 506 da Asa Sul, em Brasília). Além das Oficinas gratuitas que começam às 13h30, a partir das 14h30 a cantora e jornalista Ana Pimenta vai cantar a Marchinha “Nínguém Solta a Mão de Ninguém” (conheça aqui). A partir das 15h tem fanfarra no Beco: a fanfarra Me Chame pelo Nome e a Fanfarra Capivareta Repercursiva.