Muita Gente Ainda Espera um Milagre

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Cosette Castro

Brasília – Frequentemente, amigas, pessoas que participam do Coletivo Filhas da Mãe e parceiras enviam links sobre curas milagrosas, sobre “vacinas” e novas medicações para curar demências, entre elas o Alzheimer.

Também chegam links de notícias que anunciam, para um ou dois anos, a cura do Alzheimer, a mais conhecida das demências e a que mais recebe aporte financeiro da indústria farmacêutica internacional. É o caso da publicação recente sobre possíveis “vacinas” para evitar a doença.

A busca pela cura do Alzheimer não é nova, assim como a espera de um milagre pelos familiares de quem já recebeu diagnóstico. Em 2021, quando este texto foi publicado pela primeira vez, a procura rápida no Google apontou 8 milhões e 510 mil resultados na busca “cura para o Alzheimer” apenas em Português. Atualmente, o Google não informa mais o número de buscas.

Como Ana Castro e eu escrevemos em março de 2021, “Uma busca no Google, voltando cinco anos no tempo (2016), e acumulamos “notícias novas e promessas de possíveis curas” quase todos os anos.

Em 2016, por exemplo, empresas como IstoÉ, Agência Estado, UOL, Veja e Superinteressante divulgaram amplamente anúncios disfarçados em forma de notícias das indústrias  farmacêuticas sobre o “êxito” de suas pesquisas”.

Tudo isso, antes de chegar à fase de testes com humanos, conhecida como Fase 3. Na Fase 3 de testes, quando chegam, as “vacinas” ou medicações não dão certo. Algumas, inclusive, colocam em risco os pacientes. Isso se repetiu em 2019, 2020, 2021, 2022, 2023 e 2024.

As publicações têm como fonte a  indústria farmacêutica dos EUA que desenvolve pesquisas em parceria com universidades dentro do próprio país ou em consórcio com outros países. Há também anúncios de possíveis curas oriundas de outras universidades, como  britânicas e colombianas, entre outras.

No que diz respeito às pesquisas realizadas nos Estados Unidos,  desde  2003  o FDA, a agência reguladora de medicamentos nos Estados Unidos, não aprova nenhum produto novo. E, quando aprovou, o produto precisou ser retirado do mercado por causa do alto risco de efeito colateral. Ou seja, há mais de 20 anos não surgem novos resultados que não coloquem em risco a vida dos pacientes, apesar dos investimentos bilionários em pesquisas sobre Alzheimer. E investimentos menores em outras demências.

Essas pesquisas, em geral sequer chegam à fase de testes com humanos. Nestes últimos 20 anos, mais de 100 medicamentos foram testados. No entanto, apenas dois conseguiram chegar às farmácias, em geral com preços caríssimos e resultados restritos.

Mas cada vez que os meios de comunicação divulgam na internet produtos ainda não comprovados, renasce a esperança. E rapidamente se multiplica o compartilhamento de links pelas redes sociais digitais, como se a divulgação ajudasse (imaginariamente) na cura dos pacientes. E os médicos, a partir de então, são bombardeados para que adotem a novidade.

Na prática, aumenta a ansiedade de cuidadoras familiares pela busca de soluções que resolvam o sofrimento diário dos pacientes e também da família, amigas e vizinhas que ajudam a cuidar frente a uma síndrome neurodegenerativa progressiva e sem cura. As demências adoecem toda a família e trazem tristeza, frustração, raiva e medo.

Por outro lado, as demências contribuem para exercitar a paciência, pois colocam as pessoas que cuidam um  ou mais familiares frente a frente com os limites da vida. Elas também expõem a fragilidade das cuidadoras, mostrando que não temos o controle de tudo. Como se não bastasse, os títulos das matérias de sites, jornais e revistas exageram. E fazem isso, para chamar a atenção para a leitura.

No Coletivo Filhas da Mãe acreditamos que não se deve perder a esperança, mas é preciso manter os pés no chão e lidar com a realidade cotidiana. Até agora, apesar dos esforços da ciência e dos cientistas, não há resultados nem  milagres.

Enquanto não chegam medicações nem vacinas o que fazer?

No que diz respeito às demências, pedir informações aos profissionais que acompanham a família, solicitando que atualizem sobre novos medicamentos ou vacinas e seus riscos. E seguir sites confiáveis como os da Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz) e da  Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

No que diz respeito às pessoas que cuidam familiares, há algumas sugestões, entre elas priorizar o  cuidado pessoal (autocuidado). Aprender sobre alimentação saudável, consumindo mais verduras, legumes e frutas. Evitar produtos industrializados (ultraprocesados) e frituras. Controlar o sal e o açúcar. Realizar exercícios físicos semanalmente. Dar uma volta  e tomar sol diariamente. Meditar, pois  ajuda a dormir melhor e a estar mais centrada. Evitar o isolamento, estimulando o convívio social.  E fazer exames anuais.  Essas atitudes promovem a saúde física e emocional e não dependem de milagres.

Cosette Castro

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