O Natal é Mais do Que um Dia

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Cosette Castro

Brasília – Quando se aproxima o fim de ano, os dias parecem ganhar uma dose de aceleração cansativa. Para algumas pessoas, além de cansativa, essa aceleração é assustadora.

Em dezembro ocorre uma contagem regressiva do ano que começa logo nos primeiros dias do mês. São tempos de balanço.

Há uma contagem simbólica do tempo que acaba, que se esvai pelos dedos a cada dia. E também revela e lembra a nossa própria finitude.

Essa contagem do tempo que falta para entrar no novo ciclo se torna concreta em 31 de dezembro. Para muitos, em forma de festa e comemoração. Mas nem sempre as pessoas consideram que há o que comemorar.

Muitas estão encarceradas e o tempo e a possibilidade de realizar sonhos e projetos têm outra dimensão.

Estão em prisões,  em situação de dependência em instituições de Longa Permanência Para Pessoas Idosas (ILPIs),  em hospitais psiquiátricos e em spaços de acolhimento para crianças e adolescentes. Ou vivem em situação de rua e não têm para onde ir ou voltar.

Há quem trabalhe em um local longe da família. Algumas sequer têm trabalho ou condições financeiras. Assistem de longe o ritmo acelerado de preparativos para festas natalinas. E há quem se negue a entrar nesse ritmo de compras e trocas de presentes caros e “de marca”.

Esse grupo de pessoas prefere criar suas próprias  lembranças personalizadas através de biscoitos, bombons,  postais criados por elas mesmas (ou pelos filhos), panos de pratos ou elaborando delicadezas especiais. E outras compram produtos solidários para ajudar campanhas de Natal.

Há pessoas que cuidam de familiares de diferentes idades. E se alguém estiver doente, o tempo e o próprio Natal ganha outra dimensão.  Nem sempre é possível, como no caso de familiares com demência, realizar festas ruidosas, reunir muita gente ou colocar música alta. É preciso se adaptar à nova realidade e as diferentes fragilidades.

Existem famílias com  pessoas queridas em cuidado paliativo e que adorariam desacelerar ou até paralisar o tempo.

Nesses casos, sejam tempos de cuidado nos hospitais ou em casa, o silêncio, o afeto e a tranquilidade são os melhores presentes para a pessoa que necessita cuidados. E para a pessoa que cuida, a divisão equitativa do cuidado, o respeito e momentos para descansar são presentes essenciais.

Em tempos de final de ano, o Natal não é só um dia.

São todos os dias quando pensamos na possibilidade de estar com pessoas queridas, sejam elas familiares, amigas e amigos e vizinhas. E de lembrar o lado bom da Internet que possibilita falar por vídeo ou áudio com quem está longe.

Ou a possibilidade de ficar em silencio, observando a si mesma.

Sim, o Natal não é apenas um dia. É  tempo de fazer balanço, de agradecer pela vida e sonhar novos projetos.

Cosette Castro

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