Cosette Castro & Cristina Hoffmann
Brasília – Um dia depois das eleições municipais que mobilizaram o país no domingo dia 06, começamos a semana tratando de um tema ainda novo para a maior parte da população: os cuidados paliativos (CP).
Por falta de informação, muitas pessoas acreditam que os cuidados paliativos só devem ser acionados nos momentos finais do familiar enfermo. Ledo engano!,
Como conta a convidada desta edição, a Psicóloga sanitarista e doutora em Psicologia Clínica e Cultura, Cristina Hoffmann, os cuidados paliativos servem para toda família e podem ser utilizados em diferentes etapas da vida, pois abrangem todas as condições que ameaçam a vida.
Cristina Hoffmann – “Os cuidados paliativos têm ganhado visibilidade na mídia, entre profissionais e gestores de saúde, mas é essencial compreender seu verdadeiro significado, aplicação e a quem se destinam, pois são um direito de todos.
Os CP buscam garantir um cuidado integral, digno, equitativo, de qualidade e humanizado. Muitos os associam exclusivamente ao fim de vida, o que é uma interpretação limitada. E asseguram que sempre há o que ser feito para proporcionar conforto e dignidade às pessoas em situações que ameaçam a continuidade de suas vidas. Essas ações podem abranger aspectos físicos, mentais e espirituais.
Ofertar cuidados paliativos significa oferta de apoio, orientação, cuidado e alívio do sofrimento físico, mental, e espiritual. Esse apoio não é só para pessoa que vive uma situação de doença que ameaça a sua vida, mas também para seus familiares e cuidadores.
Falar de doenças e situações que ameacem a continuidade da vida, nem sempre é uma conversa fácil. É necessário investir na formação de profissionais, na constituição de equipes interdisciplinares, no estabelecimento de relações de confiança entre profissionais e entre estes e os pacientes E também relação de confiança com os familiares, pois cada saber, cada olhar vai contribuir para que a integralidade do cuidado aconteça.
A origem do termo Paliativo, do latim, paliar, significa proteção, amparo e abrigo. É importante e necessário sabermos que não significa abandono, mas sim proteção. Os CP propõem que todas as pessoas tenham a oportunidade de receber cuidados que lhes deem dignidade, incluindo o final de vida,
No entanto, os cuidados paliativos não se limitam apenas à fase final. Estes cuidados, reduzem as repercussões negativas de doenças ameaçadoras sobre a vida das pessoas, de seus familiares e de quem cuidada. Embora nem sempre seja possível eliminar todas as dores, é viável reduzir o sofrimento por meio de uma equipe preparada, permitindo que os momentos difíceis sejam vividos com suporte adequado antes, durante e após a finitude.
Os CP não se restringem a doenças incuráveis, como o câncer. Eles incluem todas as condições que ameaçam a vida, incluindo doenças crônicas, como as demências e Parkinson, e situações agudas, como a COVID-19. É uma abordagem que promove a qualidade de vida e se aplica a todas as etapas da vida.
A identificação precoce dos que necessitam de CP é crucial, por isso, a atenção primária tem um papel fundamental nesse processo, já que suas equipes têm acesso direto às comunidades.
Um outro ponto importante é que o tratamento curativo (modificador da doença ou curativo) não exclui os cuidados paliativos e vice e versa.
Algumas pessoas vivenciam doenças agudas que ameaçam suas vidas, sendo necessário associar uma terapia curativa/modificadora da doença, com os cuidados paliativos, para que melhore a condição de superar o problema. Nos casos em que a pessoa não tenha a perspectiva de cura, poderá, a partir dos cuidados paliativos, ter sua sobrevida aumentada, com qualidade de vida, diminuindo o sofrimento, nas dimensões física, psicológica e espiritual.”
No Coletivo Filhas da Mãe apoiamos a utilização dos cuidados paliativos em todas as fases da vida sempre que se fizer necessário.
PS: Em maio deste ano foi aprovada a Política Nacional de Cuidados Paliativos pelo Ministério da Saúde, através da Portaria GM/MS Nº 3.681, de 07/05/2024. Ela propõe a implementação dos CP em todos os níveis de atenção do Sistema Único de Saúde (SUS). Conheça mais sobre a política nacional no link aqui.