Cosette Castro
Brasília – O lançamento do Relatório Mundial sobre Demências (link aqui) e do Relatório Nacional sobre Demências (ReNaDe) (link aqui) na sexta-feira, 20, mostra que há muito trabalho e desafios pela frente.
Mostra também que é preciso criar urgentemente um Plano Nacional de Demências, com orçamento e participação multissetorial, incluindo os movimentos sociais.
É urgente combater a falta de informações entre profissionais da saúde, entre funcionários e gestores públicos, empresas, entre as famílias e a população em geral. E também para combater as notícias falsas e o estigma que circula nas redes sociais digitais e no mundo presencial.
No Brasil cerca de 2 milhões de pessoas já receberam o dignóstico de demência, sendo a mais comum o Alzheimer. Mas o país apresenta alta taxa de subdiagnóstico. A cada 10 pessoas apenas duas receberam diagnóstico, em geral, tardio. Ou seja, cerca de 80% dos casos ainda aguardam diagnóstico.
Essa espera pode demorar entre dois e quatro anos nas redes privada e pública. É urgente o Estado assumir sua co-responsabilidade no cuidado integral da população. Principalmente quando se leva em conta que 70% das pessoas dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) para receber dignóstico, para receber tratamento pós-diagnóstico e para receber cuidados paliativos.
Essa espera prejudica os pacientes que não são tratados e também os familiares que, sem informações, não conhecem as características das demências nem sabem o que fazer para ajudar.
O alto índice de subdiagnóstico se repete em outros países e continentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o subdiagnóstico chega 63,9% dos casos. Na Europa, chega a 53,7% e na Ásia, atinge taxas de 93,2% dos casos.
Outro ponto importante é a possibilidade do diagóstico em tempo, algo que só ocorre em alguns países desenvolvidos. Esse diagnóstico, também conhecido como diagnóstico precoce, ajudaria muito na qualidade de vida das pessoas com demência e de quem cuida.
A maior parte dos casos demenciais atingem as mulheres. No entanto, os estudos e testes realizados para avaliar demências, não incluem a influência da menopausa e da queda hormonal no declínio cognitivo das mulheres. Sem conhecer a realidade das mulheres, como avaliar com precisão um quadro demencial e prevenir doenças?
Embora a campanha mundial de conscientização sobre demências de 2024 trate sobre o estigma, o trabalho de conscientização lança o olhar apenas para a população com 60 anos ou mais.
Entre governos e pesquisadores do mundo inteiro, inclusive no Brasil, há um apagamento dos casos de demência precoce, que atingem 5% da ppolulação com demência partir dos 35, 38 anos. Esse grupo de jovens adultos é negligenciado por ser minoritário. Até quando esse abandono e negligência vai ocorrer?
Segundo o Ministério da Saúde as demências são a quarta causa de morte no Brasil, mas também esse número é subestimado.
Até o momento não há obrigatoriedade de que as demências sejam declaradas no atestado de óbito como uma das causas da morte. Isso é importante porque os pacientes não morrem diretamente pela síndrome, mas por outro problema relacionado ao quadro, como problemas cardíacos ou pulmonares.
O ReNaDe 2024 sugere a inclusão de um item sobre demências no atestado de óbito. Mas mais uma vez, ocorre o apagamento da síndrome neurodegenerativa entre jovens adultos. A indicação de inclusão se refere apenas a pessoas com 60 anos ou mais. Até quando o Estado brasileiro continuará fazendo de conta 5% dos casos não existem?
Na próxima edição vamos comentar outros achados nas pesquisas mundial e nacional. Um deles é a crença de 65% dos profissionais de saúde e de cuidado no mundo sobre demências. Eles acreditam que a demência é uma parte “normal” do envelhecimento. Não é!
PS: Conheça o Kit gratuito de ferramentas anti-estigma do Projeto Stride (link aqui ).
PS 2: Na terça-feira, 24, teremos Elaine Mateus, presidente da Febraz, no programa Terceiras Intenções. Ao vivo no canal do Youtube FILHAS DA MÃE COLETIVO, das 19 às 20h.
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