O Desafio do Estigma Sobre as Demências

Publicado em Demência

Cosette Castro

Brasília –  Está sendo  lançado hoje em Londres o Relatório Mundial sobre Demências. O estudo conta com a participação do Brasil que também está apresentando seu Relatório  Nacional nesta sexta-feira.

O lançamento mundial  pela Alzheimers Disease International acontece 24 horas antes do dia mundial de conscientização sobre Alzheimer, 21 de setembro. O Alzheimer é a forma mais comum de demência, síndrome neurodegenerativa progressiva que ainda não tem cura.

No Brasil, o Ministério da Saúde realiza encontro técnico sobre “Cuidado Integral às Pessoas Idosas na Atenção Primária da Saúde (APS) – um olhar sobre a  demência e a saúde” na sede da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em Brasília.

O encontro conta com  a presença de pesquisadores, profissionais da  saúde, representantes do governo e de movimentos sociais, entre eles o Coletivo Filhas da Mãe. E pela manhã  será apresentado o Relatório Nacional de Demências 2024.

Informação para Combater as Demências

O estudo que está sendo lançado em Londres dá sequência à investigação mundial realizada  em 2019 sobre demência.

A  pesquisa  de 2019 abrangeu  quase 70 mil pessoas em 155 países e territórios, entre eles o Brasil. Trata-se do maior estudo sobre atitudes em relação às demências já apresentado no mundo.

A investigação mostrou que o estigma em torno da demência impede que as pessoas busquem ajuda médica, informação e orientação. Com informação, haveria uma melhora considerável na  qualidade de vida das pessoas diagnosticadas e também de suas famílias. 

Em uma Sociedade da Perfeição, que exige corpos eternamente jovens e saudáveis, o estigma começa com uma parte importante dos profissionais da saúde. Muitos acreditam que as demências são parte  “natural” no envelhecimento. Com isso desestimulam o tratamento.

Para contribuir na formação dos profissionais, os cursos de graduação e pós-graduação da área da saúde, assim como as instituições das áreas da saúde,  precisam discutir sobre envelhecimento e suas condições, incluindo disciplinas obrigatórias e mais projetos de pesquisas.

Para além dos profissionais de saúde, a falta de informações e o estigma se espalham entre funcionários públicos, profissionais da educação, da mídia,  formadores de opinião, empresas, até se materializar no cotidiano familiar.

Uma das principais conclusões da pesquisa realizada em 2019 é que 95% dos quase 70 mil  entrevistados acreditavam  que iriam desenvolver demência durante a vida.

Ou seja, o envelhecimento significa perdas e adoecimento para essas pessoas, quando deveria representar apenas mais uma fase da vida onde poderiam desenvolver novos projetos.

Essa percepção negativa sobre o futuro aponta a urgência de campanhas permanentes de informação voltadas  para diferentes grupos. Seja para profissionais de saúde, para funcionários e gestores de governo e para a população em geral.

No Brasil,  além das estrategias nacionais de saúde,  é urgente dar um passo atrás e começar pela realização de campanhas permanentes sobre  envelhecimento saudável e ativo, respeitando as diferenças entre as pessoas e  valorizando histórias de vida.

Em um país com 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais  e outras 55 milhões na faixa dos 50 anos ou mais, precisamos urgente reduzir o preconceito contra pessoas idosas. E, em paralelo, fazer campanhas que humanizem as pessoas diagnosticadas e que gerem solidariedade.

Entre as campanhas permanentes, é preciso denunciar todos tipos de  violências, como a infantilização, o “descarte” e o apagamento das pessoas idosas, o abandono e a negligencia.

Entre as gerações mais novas, é urgente  estimular  a prevenção das doenças, naturalizar o  processo de envelhecimento e  incentivar as relações intergeracionais. E, a partir daí,  informar permanentemente sobre demências.

Para sair da violência diária contra pessoas idosas, o Brasil precisa de muita informação. E de um Plano Nacional de Demências com orçamento do tamanho do Brasil.

Pensando na população, entre as informações necessárias estão, por exemplo: 1.mostrar a diferença entre perda cognitiva e demência; 2. Informar os fatores de risco; 3. Informar as fases da demência e suas características; 4.Informar as fases e  níveis de independência das pessoas diagnosticadas; 5. Informar a importância da prevenção; 6.  Informar sobre formas de acolhimento a pessoas com diagnóstico; 7. Informar sobre cuidado coletivo e autocuidado para pessoas que cuidam.

Enquanto aguardamos os Relatórios Nacional e Mundial de Demências, reforçamos a necessidade de implementar um Plano Nacional de Demências com orçamento e participação dos movimentos sociais. E garantir a  implementação das leis, nacionais e distrital,  aprovadas, mas ainda não implementadas.

 PS: Na próxima edição estaremos oferecendo  informações sobre os Relatórios Nacional e Mundial sobre Demências.

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