É Possível Lidar com o Luto, Mesmo com Alzheimer

Publicado em Alzheimer

Cosette Castro e Natalia Duarte

Brasília – Confirmando os dados sobre o envelhecimento da população brasileira, esta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024) informou que o número de pessoas com  60 anos ou mais,  ultrapassou as pessoas que têm 15 a 24 anos.

Desde 2023, 15,6% da população brasileira é composta por pessoas idosas, enquanto 14,8% é composta por pessoas entre 15 e 24 anos, faixa de idade que vem diminuindo desde os anos 2000. Esta é a primeira vez que essa inversão ocorre.

Esta semana damos continuidade ao projeto Filhas da Mãe Contam Historias. O relato de hoje foi enviado pela professora da UnB, Natalia Duarte, que faz parte da Cooordenação do Coletivo. Natalia relata como é possível descobrir  força e acolhimento em meio ao luto. Mesmo com o pai com Alzheimer.

Natalia Duarte – “São muitos os desafios de cuidadora familiar, dentre os mais difíceis é apoiar durante a perda de um familiar. Revivenciei essa experiência semana passada, quando meu pai perdeu seu irmão mais velho, Clóvis Duarte Mesquita, aos 94 anos, após uma queda.

Clóvis foi o esteio de sua família, adolescente ainda. Mais velho de cinco irmãos, foi quem reuniu a família toda para morar em sua casa, na Cidade dos Meninos, no Rio de Janeiro. Foi o herói dos seus quatro irmãos e oito filhos. Suas principais características eram o bom-humor, a amorosidade, a temperança e sua força.

Quando soubemos do falecimento, meu pai, Ítalo, que tem Alzheimer, disse prontamente: ‘eu quero ir ao enterro do meu irmão’.

O luto na terceira idade pode ser um processo especialmente desafiador. Quando há Alzheimer, os idosos enfrentam não só a perda do ente querido, mas a referência de sua memória em desconstrução e algumas questões de saúde podem aparecer nesse processo. No caso do meu pai, foi uma dor repentina e forte nas costas.

Reconhecer e aceitar as emoções não é fácil e a tristeza é a mais silenciada das emoções.  É importante acompanhar a pessoa idosa para que reconheça e aceite suas emoções, permitindo-se sentir tristeza, raiva ou qualquer outro sentimento.

Buscar companhia e apoio emocional também, sendo a presença de familiares e amigos fundamental. Foi assim que Ítalo passou por essa perda. Nos dias que ficamos no Rio de Janeiro, o mais alentador foi observar a troca de memórias e o carinho dos três irmãos uns com os outros.

Sandra, a mais nova, mesmo com a dor da partida de seu irmão querido, teve forças para nos receber, organizar encontros e apoiar ao mesmo tempo em que era apoiada. Um dos momentos mais emocionantes foi folhear com meu pai o scrapbook que Sandra fez para a mãe Ermelinda. Um álbum lindo, pleno de fotos, recortes, colagens e escritas que guardavam as recordações mais preciosas da família Duarte Mesquita.

Os irmãos se deleitaram com as lembranças que, pouco a pouco, iam ressurgindo. Com ajuda, Ítalo ia reconhecendo os personagens, os locais, os fatos e dava boas gargalhadas. Ia lembrando das histórias que os irmão tinham, ainda na adolescência, sob os cuidados de Ermelinda e Clóvis.

Relembraram dos bailes que faziam na enorme casa do Tio Clóvis; de como a irmã Maria Lúcia tocava seu acordeom nas festas, dos casais que dançavam e cantavam nos idos dos anos 1950/1960, mas depois tinham que ajudar a arrumar a casa. Lembraram que a vida era boa porque estavam juntos, enfrentando as adversidades.

Voltamos para Brasília com tristeza, mas fortalecidos na união dos que ficam. Sigo conversando sobre a perda e compartilhando memórias para trazer conforto ao meu pai. E assegurando que Ítalo se mantenha ativo, participando de atividades físicas e sociais, cuidando da saúde, mantendo a rotina de cuidados respeitando seu tempo de luto”.

No Coletivo Filhas da Mãe consideramos o acolhimento e o cuidado coletivo fundamentais para seguir em frente em meio aos desafios da vida e da morte.

PS: Este domingo, dia 25, estaremos realizando Caminhada no Eixão Norte, com saída às 8h30, do Marco Zero localizado no Buraco do Tatu, em Brasília. Será um “Esquenta Caminhada”, preparando para a Caminhada da Memória de setembro. Depois do lanche compartilhado, participaremos das atividades de autocuidado do parceiro Instituto Tocar. Venha caminhar com a gente: https://chat.whatsapp.com/Ge94hzDQgBlCoRkUi5bKYc

 

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