Cosette Castro & Claudia Lessa
Brasília – Em tempos de envelhecimento e longevidade precisamos repensar os ideais de eterna juventude que estimulam o preconceito por idade.
Também precisamos repensar o tipo de sociedade que temos e as cidades que vivemos.
Por isso, a convidada desta edição é a administradora de empresas com Mestrado em Psicologia Social, Cláudia Lessa. Ela é consultora especializada na Orientação Profissional e Planejamento de Vida e Carreira para jovens, adultos e pessoas 60+.
Claudia reflete sobre o imaginário de que “felicidade é sinônimo de ser jovem”. No Brasil, isso naturalizou a busca (impossível) pela eterna juventude. E tornou o país no campeão das cirurgias estéticas.
Claudia Lessa – “Nas últimas décadas a juventude, sua beleza e vitalidade foi amplamente explorada pela comunicação e pelo marketing. Foram oferecidos muitos produtos e serviços para esse público.
Propagandas venderam a ideia de uma eterna juventude, escondendo tudo que não fosse belo, como o envelhecimento as doenças e a própria morte. A felicidade era jovem!
Diante desse fato, nem percebemos que a idade avançava e que os jovens de todo mundo envelheceram. Nesse meio tempo, nasceu no Brasil um contingente de pessoas idosas e suas mazelas.
As funerárias saíram à frente se equipando e desenvolvendo produtos e serviços especiais para as cerimônias fúnebres e acomodação dos mortos.
Já o mercado demorou para entender o crescimento de novas oportunidades de negócios.
No Brasil, cerca de 30% da população com 60 anos ou mais conquistou equilíbrio financeiro através do trabalho e da aposentadoria.
Isso dá poder de compra, mas só recentemente cresceu a oferta de produtos e serviços para atender as necessidades e exigências dessa população.
São roupas e sapatos confortáveis, cosméticos, medicamentos, viagens e entretenimentos. Um mercado ainda tímido, voltado para atender os anseios e despertar desejos de consumo das pessoas idosas.
Já as novas famílias são pequenas e habitam apartamentos funcionais.
Isso dificulta acomodar e cuidar de avós, pais e parentes envelhecidos. Diferente de décadas passadas quando pessoas com 60 anos ou mais compunham a família até a morte.
No Brasil se multiplicam, as casas de acolhimento de pessoas idosas. A maioria pagas.
No Distrito Federal, por exemplo, não existe nenhuma Instituição de Longa Permanência para Pessoas Idosas (ILPI) gratuita. E essa falta de ofertas públicas ocorre em todo país.
Há poucas ILPIs com qualificação para cuidados de excelência. E as que existem têm preços abusivos.
As políticas públicas voltadas para atender e proteger as pessoas idosas existem, mas nem todas foram implementadas. Esse é o caso do Estatuto da Pessoa Idosa que compeltou 20 anos em 2023.
As políticas públicas engatinham diante do crescimento da demanda. Tampouco há orçamento voltado para pessoas idosas. Elas seguem invisíveis.
Existe a necessidade urgente de reconfigurar as cidades com serviços de transporte, calçadas adequadas para evitar quedas, semáforos para a travessia no tempo da pessoa idosa e sem riscos. Precisamos de cidades inclusivas.
O uso da tecnologia também se tornou fundamental. No entanto, poucas pessoas idosas dominam essa linguagem para atender necessidades essenciais. Entre elas efetuar pagamentos, comprar pela internet, acessar serviços médicos ou usar o e-gov.
Essa dificuldade abriu mercado para a alfabetização de pessoas 60+ nas tecnologias digitais. E até mesmo para a intermediação segura ou para oferecer apoio às pessoas idosas conseguirem circular no ambiente virtual.
Por outro lado, faltam móveis e utensílios domésticos adaptados a essa nova fase da vida. Uma fase que requer praticidade e segurança. É um bom momento para pensar o design para a longevidade.
Da mesma forma, faltam restaurantes e serviços de alimentação para atender as dietas restritas em sal, açúcar e temperos que comprometem a saúde da pessoa idosa.
Como dizem as amigas do Coletivo Filhas da Mãe ao falar da Sociedade do Cuidado, precisamos de saúde alimentar oferecendo espaços dentro e fora de casa onde seja possível se alimentar sem medo. Onde a alimentação ofertada respeite os diferentes corpos, necessidades e tipos de envelhecimento.
E preciso repensar também esse mercado de trabalho que cresce cada vez mais. Um mercado que deve ser intergeracional, incluindo todas gerações”.
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PS 2: No próximo domingo estaremos participando do Projeto UM DIA NO PARQUE com visita ao Parque do Guará. Venha caminhar conosco.