É Demência ou Não É?

Publicado em demências

Cosette Castro

Brasília – O envelhecimento costuma escamotear os primeiros sinais de demência.

O familiar pode estar esquecendo atividades básicas que  dominava ou mudando de comportamento. Mas a primeira reação da família é colocar a responsabilidade na idade.

Além de ser um preconceito, faz com que os indícios sejam colocados de lado porque parte da família se nega a aceitar que há algo errado.

Mesmo com sinais que deveriam acender uma luz de alerta. Entre eles, esquecimentos de situações recentes, objetos que são guardados em locais estranhos, mudanças repentinas de humor ou comportamento.

Há sinais diferentes para cada caso. Há pessoas que, depois de desenvolverem algum tipo de demência,  ficam mais ansiosas. Outras, mais agitadas e até violentas. Ou ainda podem passar a ficar alheias ao que se passa ao seu redor.

O familiar pode passar o dia perguntando repetidamente sobre os mesmos temas, sem se dar conta que já falou sobre isso. anteriormente.

No caso de familiares independentes, como profissionais que viajavam muito, é possível que comecem a arrumar a mala com uma semana de antecedência. Mas esqueçam itens básicos, como calcinhas, escova e pasta de dentes.

Pode ser que levem  na viagem vestimentas inadequadas ao clima. Ou muitas blusas e nenhuma calça.

Há quem, ainda sem diagnóstico, se negue a levar o celular em uma viagem para “não ser controlada”. Ou desligue o telefone na viagem, causando preocupação à família e às pessoas que viajam juntas.

Há quem chegue ao aeroporto de madrugada para uma viagem na hora do almoço, com receio de perder o voo. E há quem se esqueça da viagem. Esquecimentos podem levar a atos repetitivos como a compra de várias passagens aéreas sem utilizar.

Ou ir a consultas médicas  e  repetir os exames sem buscar resultado. Ou fazer  ultrassonografias e holters a cada dois meses.

Pacientes com demência em estágio inicial muitas vezes desenvolvem estratégias para disfarçar suas fragilidades. Isso pode  dificultar a percepção de que algo está errado.

Entre pacientes, o que se tornou difícil,  passa a ser contornado, considerado chato até ser deixado de lado. Almoço, só fora de casa, como aconteceu com a mãe da Ana Castro e com a minha. Café da manhã, também (mãe da Ana).

Há quem se perca dirigindo. Esqueça para onde estava indo ou como voltar.  Outros se perdem no trajeto do ônibus que fizeram a vida toda, principalmente no caso de pessoas idosas que moram por décadas no mesmo bairro.

Não é incomum se perder na rua ou até mesmo dentro de casa,  sem reconhecer móveis ou objetos que, muitas vezes, elas e eles mesmos compraram.

Por isso, dirigir é uma atividade a ser observada. O  carro é uma das primeiras restrições após as mudanças de comportamento, de linguagem, de memória  ou do diagnóstico  definitivo.

Para a segurança da pessoa com demência, é possível alegar que o carro está na oficina. Ou, como medida extrema,  informar que foi roubado.

Esconder as chaves deixando o carro à mostra é uma tática que, em geral, não funciona. E ainda pode causar ansiedade e agitação.

Em estágios mais avançados, pacientes com demência querem voltar para casa. Mas a casa que se lembram é a casa da infância. Um lar que, na maioria dos casos, já não existe mais.

Nas nossas famílias já houve e há casos de demências com diferentes tipos de histórias. Entre as mais  desafiadoras estão os casos de demência precoce, de característica genética.

É doloroso quando os sintomas começam a se manifestar  por volta dos 40, 50 anos. Na maioria dos casos a família e até os próprios médicos desconsideram a possibilidade  de um diagnóstico como demência.

No mundo, a cada três segundos, uma pessoa é diagnosticada com Alzheimer ou outros tipos de demências. E a tendência é esse número aumentar rapidamente. Ainda mais em países em desenvolvimento como o Brasil, com tanta desigualdade social.

Precisamos de muita informação e campanhas nacionais para as famílias acreditarem que, sim, pode ser demência. E pode ocorrer de forma precoce ou após os 65 anos.

PS: Esse texto foi publicado no Blog em 2021, sendo assinado por Ana Castro e Cosette Castro. Ele foi atualizado para esta edição.

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